Passa da meia-noite... desperto, e estou só.
O escuro mata-borrão do teto do meu quarto
suga-me o olhar interrogante;
ansioso, escavo o ar... e nada!
Cavernas vazias, labirintos escuros —
esta noite não promete nada!
fugindo ao torpor que me trava o corpo,
levanto-me, vou até a geladeira.
A cerveja gelada virada na goela,
líquido derramado na areia escaldante,
desce por minhas entranhas
e acorda-me reclamos do corpo.
Essas veias pulsantes...
É uma pena, pena mesmo, esta noite assim,
cálida, mas tão sem rumo!
Não há nada a fazer... ou há?!
Sobra-me ânsia, falta-me objetivo!
Indócil, decido que algo deve ser feito;
faço então, um trato com o demônio —
ponho um tango para tocar!
Visto uma camisa branca, ajeito os cabelos;
Um toque de perfume, um aprumo do corpo;
narinas abertas, desço as escadas: estou à solta!
No vento noturno da invernada, o almíscar irresistível;
as ruas, os bares me chamam — Cavalo da noite eu sou!