Em nós, o ouvido, quase e, quase, o olhar
Buscam nas cores, vozes misteriosas...
O sol que, nele — o céu — está hoje posto
Já não reflete os lábios tão vermelhos
Que nos iluminam, sempre, o rosto.
O som — A poesia — quebra o vidro do dia como duma
cratera a voz do fogo lança os jatos do meu grito
_Ah! Não digas que não, quando a hora quer
Tudo então é verdade!
Colhendo nos dias essa irrealidade...
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova...
Do meu jardim — os altos girassóis
Quem foi que os arrancou e lançou no caminho?
Não andes mais inerte, em poeiras adormecidas
o vento toca, em bandolins distantes — pára um instante —
tem mêdo do frio dos subterrâneos e acolhe-te em meus braços
Aquelas ruinas são o tumulo sagrado de um beijo guardado
com palavras lacradas e fechos de ouro a banha-las
armas reais — os minutos contorcidos —
em que lhe sonho mas não o tenho comigo
Nas areias ficaram as pegadas de um par que se beija.
Há mãos postas entre as flores a chorar sempre a mesma dor.
(texto dedicado à alguém especial)