Em preto e branco
Olhei a foto antiga em preto e branco mergulhei em sua profundidade. Família grande: três rapazes – homens feitos, duas moças e um adolescente. O senhor da casa, o pai, e dono das terras; senhor da escrava branca – a esposa, governanta do lar, moída, deprimida, anulada; seu ofício sem nunca tirar o avental: cozinhar, passar, lavar, cozer, limpar, bordar, tirar as botas do patrão, tirar a própria roupa, e, fazer, fazer, sem si satisfazer.
Sempre olhando para baixo - submissão e omissão do seu eu -, na hora certa, sempre metódica: mesa posta, família alegre, saudável.
Após as refeições, uma filha cantava, o mais novo tocava violino – orgulho do pai, o senhor.
Até a chegada dele: o retratista. Contratado pelo senhor da casa, para registrar em fotos, o dia a dia da família. Foi justamente naquela foto, da qual a dona da casa não queria participar, e que diante da insistência do fotógrafo, de avental e mãos cheias de terra, pois cuidava do jardim atendeu ao apelo do visitante.
Pronta à foto registro de sua presença: cabeça baixa, corpo de lado, e, de costas para o senhor da casa.
Terminado o trabalho fotográfico, um grande jantar de despedida, com a mesa farta, e música.
Amanhece o dia. A mesa, que cedo – marido e filhos trabalhavam no campo – estava posta, não tinha sido desfeita, após o jantar da noite passada. Perceberam então a ausência, e a importância do trabalho da escrava branca, que jamais voltou.
Paráfrase:
Quantas vezes temos joias, entre nós, pessoas de valor imenso no nosso convívio, que passam despercebidas... Só quando as perdemos é que sabemos dar o real valor.
Faço votos de que isso não aconteça consigo, não aconteça comigo.
Que saibamos valorizar as pessoas que nos cercam, principalmente, as que costumam cuidar de nós, com zelo, com sinceridade. Não só no lar, mas em outras áreas da nossa vida.
O trabalho EM PRETO E BRANCO de EstherRogessi foi licenciado com uma Licença
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