O DUQUE
O Duque apareceu em Limeira, pela madrugada de um dia do ano de 1954.
Vinha em um caminhão e fazia parte de uma ninhada de 5 vira-latas.
Estava acomodado em uma caixa de papelão, dormindo em cima de jornais velhos.
O motorista do caminhão parou no único bar aberto da cidade a procura de leite para dar aos cachorrinhos.
Meu pai, que tinha um bilhar na loja, em cima do bar, assistiu a cena e
foi dar uma olhada na ninhada.
Como já tinha acabado o leite no estabelecimento, meu pai resolveu ir buscar um pouco em casa.
Fizeram uma papinha, leite e pão e deram aos cachorrinhos.
Assim o dono do caminhão em sinal de retribuição, deu um deles ao meu pai, que relutou um pouco para aceitar, mas, sabedor do meu desejo em ter um cachorro, acabou aceitando.
Levou o cãozinho para casa, de manhã e me fez uma surpresa danada.
Colocamos o nome de Duque. Ele era todo negro, com as duas patas
dianteiras brancas e uma mancha branca, também, em formato de estrela no peito.
Meses depois, voltamos de Limeira para Torrinha e lá veio o Duque
junto, fazendo parte da família.
Ficou grandão.
Amigo do peito andava comigo pela cidade toda e me defendia em toda e qualquer situação.
Escapava de casa e saia à procura das cadelas soltas pela rua.
Em uma dessas andanças o fiscal da prefeitura deu "bola" como se dizia naquele tempo(carne envenenada) a todos os cachorros soltos na rua.
O Duque ainda tentou voltar para casa veio se arrastando. Tentei dar
leite a ele,era o que recomendavam nesses casos, mas já era tarde.
O Duque morreu ali na minha frente, na calçada, na porta de casa.
Chorei, juntei uma porção de amigos, todos de mais ou menos, oito, nove anos e fomos brindar a porta e a vidraça da casa do fiscal com algumas pedras que achamos pela rua.