CHOQUE DE ORDEM
Beto Matos
Vinha quebrado e no osso
Com três e sete seu moço
Pensando em desencarnar
Nem tinha pontos pra entregar
Foi quando numa garoa
Fixado num caroço
Tropecei num alguidá
Não sei se é sorte ou se é azar
Mas quando no susto ela virou-se de busto
Vi que era a Susete
Crioula do tempo que eu tinha topete
Que eu fui fissurado e não disse jamais
Voltei a me sentir rapaz
E então com pose e com prosa
Confessei em voz pastosa:
“Desde moleque eu sou afim”
E ela me disse: “Como assim...”
Dali em diante
Com auto-estima e confiante
Empreendi outra vez
Vendendo breguete chinês
Comprei um Chevette
E desfilava com a Susete
No Poção de Muriqui
No Norte Shopping ou Iguatemi
E aos domingos com estilo
A onda era comida a quilo
E a noite na Tia Gessi
Fiz quitinete em Cachambi
Vinha com a vida aprumada
E uma crioula arrumada
Desconhecendo o perigo
Quando gritaram: “Olha o Rodrigo”
“Ele é pior que o Padilha
Toma cuidado minha filha
Vê se te esconde rapaz”
Eu disse: “Calma, ele é de Paes.”
Apreendeu meus breguetes
Rebocou meu Chevette
Como é que eu vou trabalhar
Vocês não vão acreditar
Derrubou minha quitinete
E a aburguesada da Susete
Não quer nem me ouvir falar
Qual é choque???