Sabe,
Você que me vê agora
Que olha e me vê um só
Que me vê falando versos
Como quem vive de glórias
Não vê de fato quem sou
Não sabe da minha história
Você que me vê agora
Que me olha e vê um só
Engana-se, companheiro,
Sou eu mais o mundo inteiro
O mundo de muitos outros
Que com meus versos embalo
São mais cinco gerações
Aqui nos versos que falo
Somos a voz do roceiro
Nas roças dos meus avós
E a voz do bóia-fria
Na fria bóia dos pais
E a voz da poesia
Que me emprestou sua voz
E como a vida seguia
Veja mais quem somos nós:
Somos também minha filha
Do outro lado do oceano
E outra filha e seus filhos
Distantes há muitos anos
E ainda o meu caçula:
Eis tudo e todos que somos.
Você que me vê agora
Me olha e me vê sozinho
Engana-se, companheiro,
Sabe quem sou de verdade?
Sou canteiro de avenida,
Jardim que enfeita o caminho
E passa por mim a vida
Em alta velocidade
Passa. Olha. Vê. Não para.
Nem me enxerga de verdade
Logo em mim tudo mudara
Com as marcas da idade
Hoje vos digo quem sou
Pois sei quem sou de verdade:
Sou aquele que passou;
Hoje meu nome é saudade.