Cântico de covil

Cântico de covil

Sandra Ravanini

Que a foice mate a fome sulcando a terra em plantio

sangrando à secura que assola, umedecendo o chão;

que a gota da degola brote em trigo e nasça o pão

para as mãos descendo o alfanje no solo tão vazio.

Sejam homens e mulheres marchando à bandeira.

Justiça e heroísmo, não a covardia inconsequente,

colocando no front os rebentos inocentes...

Não me convence ver criança ser escudo em fileiras!

Que os sem-terra e sem-teto, ora um cântico de covil,

sejam um movimento albergando os quantos sem nação,

e não a vergonha do hino senil à destruição

num refrão corrupto dos brasileiros sem Brasil.

Amornem os ventos estiando a poeira que avança,

caia o sereno nesta areia ressecada e fendida

saciando a sede do canavial seco e vendido...

e que o néctar da cana adoce a marcha e a vingança.

14/06/2007

www.sandraravanini.com