Sinto sob os dedos o suave cetim que teu corpo reveste
E por mais que empreste ao momento toda a atenção
Ainda é pouco, é ilusão;
Porque detalhes dessa penumbra em meus olhos embaçados
Hão de ficar guardados para as vidas que virão.
Queria preservar a todo custo um certo toque, o exato
momento
No qual o movimento das mãos se torna infinito,
E o que é mais bonito
É que tudo o que vejo, o que ouço e o que tateio
Não é devaneio, é antes de tudo um rito.
E no templo do teu quarto, sobre o altar de mola e espuma,
Enalteço uma a uma tuas vontades e me esqueço:
Não me reconheço.
Mas sou mais eu assim, com teu cetim sob meus dedos,
Sem pressa e sem medos, identidade ou endereço.
Mas a hora chega, fatal que chegue cedo ou tarde.
Por mais que a retarde ela vem sem compaixão.
E deixo o altar-colchão
Para levitar pela estrada aguardando o próximo culto,
Levando comigo o vulto do teu corpo em devoção.