Enchente da flor
Sandra Ravanini
Vem ao meu alcance grávida de flor,
depressa, adocicando as cascatas,
salinas do meu olhar em ressaca;
vem! — numa enchente límpida de amor.
Mãe risonha, abençoada e serena,
se derramando o leite encantado,
há de milagrar o inesperado;
então me abraça, mãe, eu sou pequena.
Vem depressa gotejar o absinto,
umedecendo o quintal agreste,
embriagando a paisagem rupestre
no fadário bronzeado que eu pinto.
Ah! mãe e mãe, me ilumina e me irriga
com a sua tempestade de emoção,
se deitando do útero outra oração,
germinará a luz na minha vida.
Fada da flor, mãe grávida de lis,
enlevo a remissão e beijo a criança,
primavera lilás que descansa...
cio da estação; uma enchente mais feliz.
07/09/2008