Eu pensava em fazer um estudo resumido da origem do Carnaval no mundo, a analogia com Baco (Dionísio), não a festa da carne, mas um louvor à colheita e depois o bacanal na Itália...
Eu queria contar o que aconteceu com o Carnaval aqui no Brasil: as reuniões escondidas dos escravos para cantarem suas histórias; os brasileiros que lançaram o estilo samba em nossa cultura e como isso veio a se misturar ao Carnaval...
Eu queria mostrar as diferenças de melodias do samba, o que é samba canção, o chorinho, samba de "raíz", marchinha, samba enredo. Quanta história e que mistureba...
Eu até queria relembrar o que tem a ver Carnaval com a religião católica, mas cansei antes de começar... porque não gostam de ler...
Quando falo que não gosto de samba, refiro-me ao samba enredo, que eu realmente detesto. Pode parecer antinacionalista ou coisa que valha, mas desfile de escola de samba me cansa. Eu não conseguiria ficar meia hora na bagunça - e meia hora me bastaria para apreciar o show. Ver mulher rebolando o traseiro com fantasias lindas? Se eu vir isto num vídeo tá mais do que bom e olhe lá. Só vale para tirar retrato e testar minha câmera.
Eu não consigo entender essa doideira de Carnaval. Não consigo entender ficarem exuberantes e esquecerem do mundo, tomarem uma alegria imensa no coração só porque chegou o Carnaval! O mesmo me acontece com Natal e Ano-Novo, se bem, que estas últimas datas têm uma carga de emoção bem mais profunda e real. Estou mais pra Quarta-Feira de Cinzas...
As marchinhas antigas e os blocos de rua, isso, sim, pra mim é Carnaval. O resto foi consequência da grana absurda que entra ou roda no país, num comércio triplicado em todas as áreas. O povo adora e todos saem na vantagem, mas isso não é Carnaval, muito menos samba...
Até a velha guarda adotou a nova guarda. A nova guarda idolatra a velha guarda para parecer autêntica.. Nada a ver Cartola com Zum zum zum pra ti cum dum (sei lá o nome deste samba...).
Reverto-me a alguns meses atrás subindo de bondinho pra Santa Tereza, velho bairro do Rio de Janeiro e de repente entrando em um cinema com poucas cadeiras. Lá eu aprendi sobre o velho samba, num filme com a direção impecável da cantora e compositora Marisa Monte (Os Mistérios do Samba).
Desci "Santa" e estive sem querer em contato com componentes de uma "escola" de Sampa (estado de São Paulo). Até hoje eles não sabem o que fotografamos...
O que ficou foi um alento do Rio Antigo, do Rio que APRENDI A AMAR, DEPOIS DE TANTOS ANOS VIVENDO NELE...
Daí resolvi OUVIR um samba de verdade, e que hoje não diriam que é um samba, porque o samba perdeu sua identidade: Alento - composição de Paulo César Pinheiro, um verdadeiro poema musicado, melodia estupidamente bonita, principalmente quando interpretada por Paulinho da Viola.
ALENTO (Paulo César Pinheiro)
Violão esquecido num canto é silêncio Coração encolhido no peito é desprezo Solidão hospedada no leito é ausência A paixão refletida num pranto, ai, é tristeza Um olhar espiando o vazio é lembrança Um desejo trazido no vento é saudade Um desvio na curva do tempo é distância E um poeta que acaba vadio, ai, é destino A vida da gente é mistério A estrada do tempo é segredo O sonho perdido é espelho O alento de tudo é canção O fio do enredo é mentira A história do mundo é brinquedo O verso do samba é conselho E tudo o que eu disse é ilusão