Veio-me a palavra “rascunho”...
É isso mesmo: “rascunho”…
Não deu tempo de fazer rascunho.
Não deu tempo de ensaiar palavras bonitas.
Não deu tempo de comprar um perfume novo,
Ajeitar o cabelo (pode? risos)
Ensaiar gestos no espelho…
Nem dar uma corridinha para sentir-se atleta…
Não teve rascunho…
Isso mesmo, sem “rascunho”!
O turbilhão de sentimentos
Pôs-me de ponta-cabeça,
Como dizem os paulistas,
E nem as unhas dos pés tive tempo de aparar…
Não teve rascunho e nem terá…
Tudo é novo, diferente,
E completamente desconhecido para mim…
Questiono hoje se eu amara antes…
Pois o que sinto agora não tem nada a ver
Com o que já sentira no passado…
Meu coração teve de ensaiar, às pressas,
novas batidas, novos ritmos...
A minha mente não teve tempo
De convocar faxineira
Para varrer lembranças esquecidas por lá…
A enxurrada da paixão invadiu-me dentro afora
E está lavando tudo…
Acho que terei de aprender novas palavras,
Comprar novos mapas… tudo novo..
Não teve rascunho,
Só lamento, meio desajeitado,
Não poder ter preparado um poema rimado,
Metrificado e bem formado…
Não teve “rascunho”...
E nem terá com esse amor urgente
Que arrebata o meu ser sem piedade.