Um simples contrato, uma conveniente justificativa social, a dignidade da servidão. Um casal, dois corpos cuja ínfima distância existente é intransponível muralha. Como que pássaros engaiolados, subjugados ao mesmo espaço físico e instante de tempo. Heróicos na manutenção de seu vínculo obrigatório, mas desleais com os próprios sentimentos. Houvesse uma imagem, seria ela a de um abismo entre duas encostas sem ponte de ligação. Sem métodos ou meios para compartilharem, mergulhados nas profundezas das suas solidões. Visíveis um ao outro, em verdade nunca se veem nas suas indiferenças disfarçadas de falsa atenção. Sem nada em comum, por não compartilharem um sonho, alimentam um perene e brando pesadelo. São como que a pesada carga que cada um carrega sobre os lombos doloridos e exaustos. Pois que têm corações amigos, mas que não são amantes.