O mar revoltoso me encantava o coração
Incitava-me a buscar sem devaneios,
Com os olhos carregados de esperança
A procurar na emoção do amor, os teus enleios...
Entre a cerração que ofuscava-me a procura
Buscava, ao som do mar em fúria de chuva e maresia,
Alguma marca dos teus passos pela branca areia
Donde as frenéticas ondas apagaram-te a travessia...
Caminhei assim por dias e tardes enevoadas
Sob nuvens enegrecidas, tormentosas de presságios
Onde aves negras voavam apressadas, aguerridas
A cortar o vento e a cantar à minha incansável busca
Num cantar lúgubre e pesaroso, como num adágio
Caí por terra a prantear a procura tanta
Que parecia fadada ao desencanto, infortúnio
Quando, por entre a bruma enevoada,
Por entre raios e trovoadas, num instante
Ao longe, sob um arco-íris desfraldado,
Trêmula e encharcada, tu também me buscava
A Poesia Enevoada
(Daniel Amaral)
15/10/2009