Responda rapidamente: A hipocrisia tem dono? Vamos lá: Tem ou não tem? Não sabe a resposta? Crie qualquer uma. Mesmo sem saber, ainda assim pode exercê-la. Sejamos razoáveis, Busquemos suas origens. Não seria ela a maior das deusas pagãs? Quem sabe, princípio primeiro da civilização. Estrutural coluna das muitas sociedades. Musa delirante, a interação de Artemis com Afrodite. Adorada por nobres e plebeus. Deusa oculta, invisível e indizível. Protetora das traições astuciosas e seduções vazias. Bela diva, tão linda quanto às hienas famélicas. Imponente. Acima das ironias. E até mesmo dos sarcasmos. Triunfante, vive a se fingir de pudica. Embora seja mera víbora poderosa. Transmuta a prudência e a sensatez em corrupção. Impalpável, mas tão viva na sordidez humana. Falsa, engana os tolos. Fazendo a paixão parecer amor. Insincera, apenas seduz. Sedutora amante oculta em beijos. Quando em verdade quer se apropriar. Pinta com sutilezas o meramente vulgar. Sempre pronta às lágrimas, Em assaltar a piedade alheia. Desonesta, mas fingida, engana seus amantes. Delicada em suas carícias interesseiras, Esconde suas garras e presas. Fera agressiva disfarçada de dócil gazela. Rejeitada pelos oradores em seus discursos. Porém, proprietária que finge nada ter. E então tolos são seus adoradores, Que pensando dominá-la, Não percebem estar intimamente instalada. Possui o coração dos seus crentes. Transformando por puro prazer, Seus antigos amantes em suas vítimas.