As Palavras Inúteis
Diga para mim
que o sonho não acabou,
que não terminou nesta noite
e então nunca mais.
Diga, quem sabe,
que foi apenas um engano...
Ou um mal entendido, talvez,
que estou enganado...
Se não for o caso,
então, diga que não é você,
que apenas imaginei ser,
que você nunca existiu.
E assim, serão apenas velhos papéis,
cartas, cartões, e folhas soltas.
Papéis amarelados e sem valor,
em meio tantas fotos impessoais.
Diga que não pensou direito,
que seu coração lhe enganou
e não bate no compasso do meu.
Seja honesta com sua verdade.
Não se incomode com a saudade,
tudo passa, eu passo e você também.
Não se preocupe em machucar,
a pior das feridas faz a ilusão.
Quantos não são os sonhos mortos?
Basta verificar as faces dos outros.
Haverá sempre uma linha imperfeita,
uma lágrima contida que não nasceu.
Diga que não tem o que dizer.
E por misericórdia talvez se cale,
e seu silêncio diga mais que sua boca,
que seus lábios quentes, hoje frios.
Seja sincera em seu descaso.
E saiba que jogou sozinha,
pois este jogo foi apenas seu,
pois que eu não joguei.
Pois que me confundem mentiras,
pois que desconheço a fugacidade,
mas sei reconhecer palavras inúteis.
E tão pouco nunca se fará tanto.
As palavras podem consolar,
mas também ferem como navalha.
E então já não diga mais nada,
deixe-me em meu franco silêncio.
Amo a ingenuidade infantil,
mas desprezo superficialidades.
Brinque com seus brinquedos, melhor só
do que em companhia do engano.