MÃE NOITE

Adormece-me, mãe!...

No limiar da luz, encontro-te o manto negro que me é pão...
Encolho-me, colhida de fresco duma Primavera inacabada. E, como feto adormecido, aninho-me no teu útero de mãe. Ríspida, às vezes. Sempre protectora... até nos gritos mais uivantes dos lobos lá fora.
Levas-me ao colo, e deixas-me sonhar prados que me ofuscam , de tão verdes...
Mas a esperança, a esperança, negas-ma sempre, poupando-a para a manhã que me teces, com primores de mãe extremosa... como se poupá-la fosse preciso, para se cumprirem as horas arrastadas pelos becos que atravessas comigo...
Como se poupá-la fosse preciso, para se cumprir o amanhã!

..e levas-me no ventre, arrastando-te até ao fim de um túnel onde me deporás na luz...

Amanhece-me, mãe!...