"Um poema catártico"
Eu fui à berlinda...
Como uma caça na mira dum caçador.
Qual uma ovelha ingênua e desavisada
Que repousa num campo minado.
Picada pela cobra rastejante do mato
Quase sucumbi entre as pútridas flores...
Que fedem veneno por todos suas negras pétalas!
Eu fui à berlinda...
Mirada pelos despudores e desamores...
Dos muitos cacos daqueles que não deram certo!
Eu fui julgada por ter coração.
Por enxergar um pedaço do outro
Nesse suplício nosso de cada dia.
Eu fui às berlindas dos mediocres,
dos que jamais conseguiram algum compromisso,
Dos muitos que esfaqueiam por trás
atrás de migalhas duras de pão amanhecido.
Eu fui levada à berlinda
pelos que nunca foram ao chão
Poque esse meu chão é duro demais
Para os que não conseguem ser..
Posto que para ser...
É preciso coragem para pulsar...
Algo que não seja apenas o pequeno.
O ínfimo repugnante de não se enxergar
Além de si mesmo.
Foi só por isso que eu voltei...
àquela berlinda dos falsos poderes da vida
cujas podres vitrines exalam vaidades...
Ensandecidas.
Mas dos lobos, eu fiz versos.
Mas não versos aos lobos!
Versos profundos e imutáveis.
Imatingíveis aos cegos de coração
Que não enxergam a beleza oculta
Das curtas entrelinhas das horas.
Deve ser por isso que dizem:
*"o homem é o lobo do homem".
**Mil flechas serão lançadas...
Mas tu não serás atingido.
Hoje eu sei o que são flechas...
E também o que são lobos!
À eles um brinde à minha blindagem..
nessa minha pulsante homenagem
sob a luz ofuscante da poesia!
Embora saiba que nenhuma escuridão se ofusca
Com o farol das sensibilidades.
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Nota
* "dito popular".
**"De Davi, Salmo 91".