Soneto 16 - SINAIS DE BRASIL (1952)
E os dias se sucediam, e sinais de terra
Não são folhas, e nem aves exploradoras,
Há o rádio, à noite, treinando ouvidos que erram
Ao escutar a rádio Tupi-Difusora.
Mesmo assim, dependendo do dia, ferra
A marujada ao pé do rádio, hora e mais hora,
A captar as ondas, na alegria pós-guerra,
No romance e natureza vindos agora...
Com teletipos de Truman à americana,
Mais guerra na Coréia, junta-se a China ainda,
O Brasil vinha de Chiquita Bacana...
E no romance mais natural que houve : Índia,
Sangue tupi, na voz de Cascatinha e Inhana,
Acabou-se a guerra e a vida se fez linda...
Nota de José Carlos De Gonzalez: Este soneto mostra a diferença cultural entre a guerra e a simplicidade da emoção. Enquanto no hemisfério norte os EUA procuravam uma perpetuação para a lucrativa guerra, no Brasil aflorava a mais pura emoção do amor e da música, que inebriava e deixava à vontade imigrantes e brasileiros, provocando a grande fusão cultural que simplificava e apaziguava as relações entre grupos e favorecia a miscigenação, resposta à mentalidade de uma raça pura que jamais daria certo. Aqui cabe observar os talentos de Braguinha, com “Chiquita Bacana” imortal marcha de carnaval, e de Assunción Flores, paraguaio compositor de “Índia” e o não menos espetacular José Fortuna, que fez a versão para o português que ficou eternamente imortalizada nas vozes afinadíssimas de Cascatinha e Inhana. E a Rádio Tupi-Difusora, captada pelos marujos em 1952 frente à costa do Rio de Janeiro, próximos dois dias de aportar.