Ventania me carrega
bem pra lá do fim do mundo,
lá vou ser um vagabundo
um qualquer que não se nega...
Não me fale que eu sou brega
nem levante a sua voz,
o meu texto é uma entrega
que só faço estando a sós...
Desamarre esses meus nós
e me solte pela vida,
vou lamber minha ferida
perdoar o meu algoz...
Esse rio foi pra foz
mas secou em seu caminho
pois chegou um sol atroz
que o bebeu igual a vinho...
Pelo leito, eu caminho,
retirante de mim mesmo
eu prossigo, quase a esmo...
esquecido do meu ninho...
Vejo ao lado o meu vizinho
com seus filhos, envolvido,
que lhes pedem seu carinho
mas recebem seu olvido...
Eu lhes digo, que eu duvido,
que a verdade está na cara
para mim é jóia rara
escondida no escondido...
Na verdade estou sumido
de mim mesmo, retirante...
meu destino foi parido
numa lua delirante...
Ventania, esse farsante,
tá coberto de agonia
passa a noite, vem o dia,
e não chega a sua amante...
Mesmo sendo um diamante
escondeu aquele brilho
esqueceu que era brilhante
apagou o seu rastilho...
Eu tão só, aqui partilho,
o querer que me escapou
minha vida que eu encilho
pra montar no que restou...
Esquecer que eu fui amante
das palavras que ela disse...
será como se eu partisse
de mim mesmo, retirante...