PASSAGEIRA DA ILUSÃO

Publicado por: Cíntia Thomé
Data: 03/09/2008

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AUTORA Cintia Thomé Voz: Cintia Tome Software Audacity
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
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PASSAGEIRA DA ILUSÃO

PASSAGEIRA DA ILUSÃO

Talvez não esteja mais aqui

Quando as uvas estiverem sem suas sementes

E todas as tinas rachadas sem pés para amassar o vazio

Quando o trigal não será mais o espelho do sol

E sim a negritude, farinha negra, a terra

Minhas mãos não amassarão mais o pão

Entre os dedos sairão vácuos do vento

A luta para domar o leão do amor e da própria existência

A humanidade soltou os dragões, o fogo da maldade

As pedrinhas dos rios não chorarão alegria e dor

Sim, o silêncio, o mais nada...

A estrela chorará,

Mas não alimentará com sua lágrima a estrela do mar

O mar já deixou de ser

E os cavalos do rei estão morrendo de sede

O príncipe nunca mais foi visto na aldeia...

Sorte das flores que já fugiram e não viram nada

A boca não urgirá palavra, na garganta há o verbo amar entalado

Garrafas dos néctares sem gargalos

Baco e as lendas das tabernas

Cortaram bocas, mudas ficaram

O peito não arfará ais do querer e do que tanto quis

As pernas não estarão à procura das esquinas do pecado

Os cabelos brancos, repartidos e escondidos no nó do lenço da fome

Sustentará o que foi mais bonito, o Amor

Os olhos refletirão erosivos chãos, poeira, pedra, estio

Pensar em voltar ou ir em frente será luta aos olhos

Receber tapas na face, socos no estomago vazio

O grão da ampulheta sufocando o tempo e o corpo

Estagnar a vida assim foi decreto,

Um perigoso aneurisma, a resignação

Com direito da lembrança do que era dança

As folhas caíam e rodopiavam, dançando o ato final

Galhos balançavam e davam frutos sem que eu erguesse a mão

Chuva da fartura, dos desejos, lamber e morder com dentes a carne

Limpar os lábios, satisfeita, plena, ápice em sumos líquidos

Pássaros na janela, anunciando a vinda de um novo e certo dia

Passageiras ilusões

Cortinas rasgadas em fiapos cerradas

Entre as frestas rumores ainda de poema e poesia

Devastado mundo, encolhida vaidade, palcos apagados,

Mentiras serão expiradas, a verdade derrotará a mim

Tablados de areia não sustentarão a solidão

Sem orquestra, sem mestria

Por isso não haverá mais minha vida, personagem

Talvez não esteja mais aqui

Pois acolá, não vibrará... Já não cativará

Nem será mais

Era uma vez.

Cintia Thomé

Jan/2008

Cíntia Thomé
Enviado por Cíntia Thomé em 08/04/2008
Reeditado em 10/04/2009
Código do texto: T936296
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