"Fazer Amor"
Pura expressão tecnicista!
Como se o Amor se fizesse...
Como se das mãos brotasse...
Como se do chão nascesse...
Como se houvesse o artista
que tal obra projectasse...
Como se o Amor fosse táctil
mecânico, elaborado
artefacto, peça fácil
mero produto acabado...
Matéria reconstruída
cria gerada e nascida...
"Fazer Amor"...
Se alguém fazê-lo soubesse
qual artífice faz a obra
qual actor inventa o gesto...
De tal modo abundaria
tornado tanto e de resto
que ninguém o buscaria
em ânsias, por ser de sobra
Por não existir tal dom
o Amor é raro, precioso
feito mistério e encanto...
Génio bom e luminoso
que das harpas tem o som
e das sereias o canto
O Amor
pode até inventar-se
pode vender-se, comprar-se
pode adiar-se, esquecer-se
como uma Graça esperar-se
sofregamente querer-se...
Mas jamais pode "fazer-se"!
(In "Geometrias Intemporais")