Consciencia Fêmea - Poema de Cintia Thomé

Publicado por: Nenúfar
Data: 27/06/2008

Créditos

Poema: Consciencia Fêmea - Cintia Thomé Voz: Nenúfar Trilha Sonora: Instrumental dos Queen Gravação e mistura de Som: Nenúfar
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.

CONSCIÊNCIA FÊMEA

CONSCIÊNCIA FÊMEA

Eu aconteço

No silêncio que ensurdece suas veias

No seu hálito de ervas daninhas das dores de seu mundo

Na maresia que molha seu ser arenoso

No céu turmalina que declamas paixões efêmeras

No derrame líquido do masturbar das palavras vãs

Eu aconteço

Nos dois frutos imaginários que apertas em suas mãos

No seu peito cheio reclamante

No incenso de rosas e cravos que aspiras

Na carnuda pétala da minha boca na sua

Nos veios em seu rosto em rio caudaloso

Eu aconteço

No sol maior que te rasga o braço

No querer de meus dedos em seu ventre

No escorregar do limbo de meus dentes

Na nuca arrepiada quando o passarinho canta

Na floresta do desejo recolhido

Eu aconteço

Nos delírios albergados de sua alma

No prazer das manhãs cortando seu sono

No papel de seda que embrulhaste as suas loucuras

No santuário infernal que jogaste seu preço

No buscar dos erros confessos que odeias

Eu aconteço

No contorno que faz de meu corpo no seu ar pesado

Na queixa da insatisfação quase perene

Nas viagens da barca sem remo e direções

No perder da feminina folha lasciva dos seus outonos

No precipício de seu sofrimento incolor

Eu aconteço

Nas suas pálpebras algemadas às minhas

No teclado preso em sua boca rasgada

Na criança que Baco faz de ti

No par de gaivotas e quatro asas na chuva

No beco da sua existência sem resquícios

Eu aconteço

No início da dor do querer com todas as vadias

No final em frenesi dos ponteiros juntos

No ejacular precoce da sua carne derrocada

No quarto, na sala de estar, no banheiro das mentiras.

No arrependimento em tormento

Eu aconteço

Na ferida de minha cavilha em seu lembrar

Na sincronia feroz com prazo do tempo acabado

Na demência, na adrenalina catalisada.

Na luz em movimento que serpenteia seus pelos

No clamor que fazes de mim, no horror.

Eu aconteço

Na boca do azar de suas palavras

Na sua morte, no seu pecado.

No amor ardente que te cegou.

Eu vivo.

Eu aconteço!

Cíntia Thomé

Rio de Janeiro, 2002

Faz parte do livro da autora Cíntia Thomé - OLHOS DE FOLHA MINHA

pela Livraria Saraiva

*Direitos Autorais

021/1377/2007

Cíntia Thomé
Enviado por Cíntia Thomé em 08/07/2007
Reeditado em 08/07/2008
Código do texto: T556537
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