A hora do não ser na espera por um Deus.
Ainda o nunca expresso desde o sempre.
Loucos gritos petrificados.
Unicamente âncoras lívidas.
Vagas naus por nenhum céu.
Incessante eco nas cavernas.
Voando sobre o mar asas sem bússola.
Luas de sonho gemendo nas manhãs.
Lento coração no galope dos mundos.
Recados do Silêncio nas grutas do sangue.
Entregues ao vento ausências rodopiando.
Apenas este pássaro estrangeiro.
Infinito olhar onde as naus se recolhem.
Folhas agonizando sem testemunha.
Kyrie eleison! No nada o deus se queda.
Em vão já, o tudo a vir-a-ser.
A calmaria do crer por um segundo.
De tudo, o não que se preserva.
Do cais, o olhar buscando o vento imóvel.
Sempre a do nada persistência inútil.
Sempre a do nada sapiência inútil.
Os planetas que se esquecem de girar.
Esboços em que se debatem os eus supostos.
Só, gritando, a nau de estar perdida.
Visões espessas no mar invisível.
Restos de brilho no que foi universo.
Líqüidos sussurros.
Eretos pesadelos.
Assim este aglomerado em seus vãos próprios.
Infinita tarde calando o casco dos segredos.
Os dias-pássaro migrantes paralíticos.
Sem voz o tempo inexistente.
Roçando a alma inverossímeis pedras.
Antepassada espera entre os escombros.
Insulado oceano.
Zarpar do único preciso tempo sem saída.
A espera por um Deus na hora do não ser.
Zuleika dos Reis.