A água corria seu corpo
E seu corpo floria à rua
A água sorvida ao esgoto
Da podridão mais impura
Escorria sua formosura
Na esquina esburacada
Da tênue luz tão escura
Da triste face rebocada
E quando vinha lavava
Seu corpo quanto podia
E sobre mim gotejava
O amor que ainda tinha
Eu não sabia de nada
Mas achava que sabia
Você lavava a calçada
E com a água escorria
Um dia ficou em casa
E a noite toda tossia
Em sua face sulcada
Uma lágrima escorria
A sua testa eu molhava
Seu corpo todo tremia
E em suor se banhava
Enquanto você morria
A semente foi plantada
Na cabeceira da mina
E escorre pela invernada
Que se cobre de neblina.