Às vezes nos perguntávamos porque papai tinha comprado um sítio tão distante... Essa noção de distância aumentava em dias de chuva quando tínhamos que descer morro abaixo, e em meio à lama, tombos e solavancos, chegar até a escola. Missa, passeio, não existia. Raríssimas vezes íamos à casa de um parente. “Vocês não sabem se comportar” -dizia papai - e mamãe se não concordava, era cúmplice, obedecia sem questionar. No dia do pagamento ele sempre levava consigo uma de nós. Ou três dependendo do estado de graça dele.
No sítio era nosso mundo paralelo.Éramos felizes sem pensar na civilização. Corríamos, brincávamos de pique esconde, amarelinha, banhos intermináveis na cachoeira.
Às vezes em um final de semana, íamos à casa de uns tios na cidade vizinha. Papai sempre reclamava muito. Falavam pelos cotovelos ele e mamãe, enquanto escolhiam as melhores roupas para nos arrumarem. Lembro-me que na volta papai sempre estava bêbado. E minha mãe chorosa.
Apesar dessas cenas, era uma aventura viver naquele sítio. *** Esse texto faz parte do e-book INESQUECÍVEIS DIAS