PARÁBOLA DO SATURNIANO

PARÁBOLA DO SATURNIANO

PARÁBOLA DO SATURNIANO

 

Certo dia, numa manhã ensolarada, encontrei um sujeito exótico que dormia perto de uma olaria abandonada. Ele me viu, assim que acordou, sorriu para mim e, de um jeito melódico, falou assim:

 

-"Bom dia! Meu nome é Ângelo. Acabei de acordar com alegria e, desse ângulo, já observei que você, embora esteja dormindo, ainda, está indo trabalhar com melancolia...

​​​​​​

 

Para tentar aliviar, aqui e agora, sua peleja que não finda, eu gostaria de lhe contar a fantasia que irei realizar. Estou aqui, mas não sou daqui, rapaz. Estou somente de passagem e vim lhe trazer uma coerente mensagem..."

 

Eu diria que estranhei o palavreado estrambólico com o qual ele se expressou.

Todavia, gostei do tom rimado e lógico que usou quando me falou que a cumplicidade social, em parceria com a amorosidade individual, seria uma necessidade essencial para a evolução da humanidade atual.

 

Então, com naturalidade, afinal, ele me comunicou que morava em "Saturno", trabalhava num duplo turno, e fazia o que queria fazer com alegria e prazer.

 

Eu me controlei e nem ri... Pois é... Lembrei que sempre tem por aí pessoa de boa fé, porém "bilé"...

 

Escutei o que ele disse e pensei: que tolice! Depois, ele me mostrou o que compôs e afirmou:

 

- "Acredite no que lhe digo e evite o perigo de duvidar da verdade e também de desprezar a amorosidade de quem está a lhe ofertar cumplicidade, atenção e o compartilhamento devido, de uma porção de conhecimento, adquirido na prática enfática da essência solidária da convivência necessária, para fixação do que seria a realizadora lição de uma teoria sonhadora."

 

Seu linguajar enfático, ao explicar, de modo didático, a imagem estranha da mensagem "saturniana", tinha a dicção de uma maluquinha inspiração. Calei e escutei, sem entender, enfim, ele me dizer assim:

"Componho adormecido o meu sonho preferido. Quando eu despertar, amando, vou comprovar que a amorosidade da fantasia é a realidade da poesia, em cumplicidade com a primazia da eternidade do dia a dia.

 

Estou trabalhando em paz e amando demais. Parece que ter sonho fortalece o que, com prazer, componho. Eu devo afirmar que me atrevo a realizar a fantasia do meu acervo que, sem acreditar no que vem da hipocrisia, escrevo, ao amar com bem alegria.

 

Se não falho e vou amando, então, eu trabalho sonhando. Componho o sentimental verso de um sonho real e confesso que tenho viajado para mais de uma dimensão universal e desdenho, desapegado, da ilusão patronal, moralista e preconceituosa, na minha excepcional pista amorosa.

 

Estou trabalhando no atual momento, e vou desfrutando do real sentimento que vai prevalecendo, vendo o presente revés soturno se desfazendo totalmente nos anéis de Saturno...

 

Meu turno trabalhoso em Saturno é amoroso, bem duplo e nem me culpo, ao ter prazer, por trabalhar à vontade, com bem liberdade e desfrutar da amorosidade em duplicidade.

 

Em todos os rostos familiares vejo os opostos polares e os beijo, notando a irritabilidade indevida se transformando em amorosidade e, em seguida, cumplicidade pretendida.

 

A treva na luz nem se conserva. Porém, a prevalência de uma sobre a existência de outra é a essência da polaridade necessária para que a eficiência da atividade solidária se manifeste numa experiência de individualidade prioritária para a sobrevivência numa sociedade sectária.

 

No universo infinito, nem me estresso com grito, feito pelo enredo patético, de medo histérico, e meto meu dedo poético em um pseudo ético questionamento raivoso ao meu intento amoroso.

 

Se trabalho no planeta Terra, atrapalho a eleita guerra existente entre a criatura crente e a "impura", entre a imposição social e a liberação individual, entre o fanatismo religioso e o ateísmo orgulhoso.

 

Eu calarei e nem sei se o que direi também será entendido pelo blá blá blá aborrecido de quem nem tem entendido o bem inserido na liberdade de crença na amorosidade intensa.

 

Muitos ateus opiniáticos e brutos fariseus fanáticos ficam a brigar demais e abdicam de amar em paz. Na Terra, a competitividade soterra a cumplicidade, devido o índice do poder cúmplice estar diminuído.

 

Porém, vi que, quando em paz, aqui trabalhando, eu estava, sempre chegava quem me provocava, eu aceitava a provocação e brigava em vão. Agora, o que me revigora é trabalhar e amar...

 

Eu estou amando trabalhar um bocado em Saturno e vou aproveitando para amar num duplicado turno. Todavia, eu realizei uma fantasia e estarei, neste dia, voltando à Terra, notando que meu sonho se encerra.

 

De fato, neste instante um ato importante, que preciso, agora, dizer de uma vez, é o seguinte... Aviso que é hora de você saber que são seis e vinte. Acorde, sem pressa, e recorde bem desta conversa..."

 

Escutei o som da rima simplória saturniana,

acordei com o sonho na memória e sei que componho uma história maluca que, porém, educa e tem a seguinte realidade moral de uma lição de essência bacana. O requinte da cumplicidade é essencial à evolução da existência humana!

 

Paulo Marcelo Braga

("Fronteira do Mundo dos Sonhos,

entre a Terra e Saturno",

no dia 09/05/2018)