Ontem no meu quarto era meia-noite
O lobo e o diabo vinham me espreitar
Numa janela baixa toda carcomida
Pela ação do tempo e o vento em frente ao mar
Eu estava escrevendo uma carta linda
Para uma donzela a quem sabia amar
Uma carta com palavras negras, em branco e cinza
Que contava um pesadelo o qual fez-me acordar
E a meia-noite passou como o voo do abutre
E a meia-noite passou como um uivo em meio a escuridão
Ontem no meu quarto era meia-noite
Um vulto encapuzado veio me assustar
Ouvi gritos e vozes mortas que diziam
Não pare de escrever ou vamos lhe buscar
Repentinamente veio a tempestade
Com ventos, com estrondos, também com clarões
Eu terminei a carta e descansei um pouco
Brincando com mentiras e com maldições
E a meia-noite passou como o voo do abutre
E a meia-noite passou como um uivo em meio a escuridão
Ontem no meu quarto era meia-noite
Alguém bateu à porta e eu fui atender
Havia um cadáver todo ensanguentado
Que o lobo e o diabo estavam a comer
O lobo e o cadáver arrastei pra dentro
Mas o diabo vi fugir sem direção
E perguntei ao lobo qual o seu destino
Ao que me respondeu: um novo coração