Valdi Rangel
O meu desenho
Eu fiz num verso
Na teimosia de viver
Quando eu não deveria
Um lápis numa mão
A minha alma sobre a tela
E olhando para a janela
Eu via o meu horizonte numa cela
Ao meu lado tintas
Pincéis e paletas
Sobre a mesa exposta
A minha última receita
Dois comprimidos
Em jejum, caminhada
Para evitar as doenças
E de beber água
Não se esqueça
Enquanto isso
Eu ia desenhando
A minha silhueta
Um rosto marcado
Por dores intensas
De desgostos e enxaquecas
E o meu retrato desenhado
Ia sendo pintado
Na cor daquela receita
Que importava-me
as minhas dores
Se eu tinha outra natureza
Eu era feito de sonhos
Das realidades que me rejeitam
E da janela eu via
O sol a lua
e os giros dos planetas
Ao final da tela
Pintei um retrato poesia
Dessequei tudo
Tudo mesmo que eu sentia
O que eu era ou o que eu queria
Ou mesmo tudo também
Que eu nunca seria!