Dois braços

Era um bosque florido à tarde

Onde dois braços caiam tão soltos

Tão incomum essa hora no parque

Como sua dona e seus sonhos envoltos.

 

Lábios carmim entreabertos ao sol

Enchiam de graça a primavera

E o seu andar sui generis como um farol

Alertava que a tarde era só dela.

 

E eu assim, do lado de fora da história

Que ela vivia na vida em seus lençóis

Queria versar-lhe uma dedicatória

Que ao menos tocasse os seus bemóis.

 

Mas, para quê? Ai de mim, o jardim a tem

E o lago, parte que ali está porque convém

Reflete o sol quando ela passa perto

Como quando o oásis subverte o deserto.

 

E quando a curva que aponta os que voltam

Tragou seus braços e o seu jeito de andar

Meus olhos abertos já não mais a viam

Eu a seguia no meu filme de ninar.