CARTA AO LEITOR ANSIOSO
Eu queria escrever um conto, ou uma crônica, ou talvez uma poesia, qualquer conjunto de palavras que chegasse até você, amigo leitor que perde um pouco do teu tempo comigo.
Eu queria te levar encantamento, embalar teu sonho acordado, te proporcionar uma paz interior, te levar a um planar de boas emoções numa torrente de ar aquecido pelo calor humano.
Eu queria que você pudesse ver seu mundo lá do alto, talvez flutuando no cesto de um balão multicolorido, e que pudesse enxergar além de tua visão, até o ponto onde o horizonte se transforma na curva da Terra.
Assim você veria tanta coisa. Tanta vida que segue. Veria os pássaros, os animais, as plantas e suas fortes raízes. Veria as bruscas mudanças do clima. Penetraria em nuvens densas e sairia do outro lado, ileso. Veria o sol acima das tempestades. Veria o limite pouco preciso entre o dia e a noite. E veria a dança eterna das constelações. E como tudo se repete.
Planando você estaria acima e protegido da mesquinhez do bicho-homem. E não seria arrogante como Ícaro. Ficaria a distância conveniente do astro-rei e seguiria teu percurso.
Eu queria que as origens de tua dor arrefecessem, e que você pudesse contemplar, no ápice do céu noturno, as belezas de Júpiter e Saturno.
Eu queria que você percebesse que o escrever te alivia e que pusesse então mãos à obra com tua poesia.
Eu não queria que você chegasse a nenhum lugar. Queria apenas que você pudesse viajar nas asas literárias e entendesse que a jornada é mais importante que o destino.
Eu queria que você fosse capaz de entender que essa angústia é passageira e nosso tempo ínfimo.
Vamos juntos, você e eu, adiante, pois o sol que agora te falta está logo à frente.
Eu queria que nunca te faltasse a luz...