O Morcego (Augusto dos Anjos)

Publicado por: CEJA VO
Data: 24/10/2022
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Créditos

Leitura da poesia. Voz: Ana

O MORCEGO (Augusto dos Anjos)

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.

Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:

Na bruta ardência orgânica da sede,

Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

“Vou mandar levantar outra parede...”

— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho

E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,

Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego

A tocá-lo. Minh’alma se concentra.

Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!

Por mais que a gente faça, à noite, ele entra

Imperceptivelmente em nosso quarto!

Augusto dos Anjos
Enviado por CEJA VO em 24/10/2022
Código do texto: T7634408
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