Diário do Futuro - Parte 1
Os bombeiros continuam a remover os destroços, existe muito dano em volta. Agora está dando com o martelo, vai daí de cima comandante Dair. Positivo.. Ééé.. A visão geral mostra o entorno destruído. Agora a fumaça já baixou e dá pra ver a rua. Você vê os maçaricos também Adnaldon? Eles estão chegando agora com cães farejadores. Olha lá! Tirou uma mão. Agora tá vindo o braço... Ah! Só o braço. Dá um close rápido. Juzila! O comandante informa que não tem como chegar abaixo antes de a estrutura esfriar. Parece que não teremos mais mortos. Ééé... Aqui acabou! Vamos almoçar. Ok. Juzila é contigo em São Paulo.
Obrigada Adnaldon, resumindo, desta vez não foram nem 170 vítimas. Podemos comemorar a menor taxa dos últimos quinze dias, Olifar? Olifar? Bem, estamos com um probleminha no áudio. As variações magnéticas na eletrosfera estão danificando os equipamentos com mais freqüência, mas o governo afirma que tem investido no setor. Os satélites continuam no rodízio. Esta semana está tranqüila e nosso recado é para você que não embarcou no vôo 147: hoje é seu dia de sorte.
Enquanto aguardamos o link vamos ao Rio de Janeiro: O caso do roubo dos mísseis do arsenal da Marinha. O ministro diz que não se pode culpar a instituição por um erro de meia dúzia. Guerra do tráfico, até quinta-feira: 82 baixas. Hospitais continuam fechados e vigiados pelo Exército. Em Brasília continuam as discussões sobre a invasão venezuelana em Roraima e o combate à narco-guerrilha na Amazônia. Quer comentar alguma coisa Eloílson Tredes? Não? Vamos então à previsão do tempo: tempestades boreais castigam todo o hemisfério norte, o número de mortos pelo granizo pode passar de 25.000. Aqui, teremos muito calor... A mínima deve ficar na casa dos 42 graus. As praias continuam interditadas pelo crescimento das águas-marinhas e algas venenosas.
São Paulo urgente: A indústria farmacêutica aumenta na próxima terça em 300% o preço dos protetores solares. É o segundo aumento em 60 dias. Foi negociada pelo governo a redução no tamanho das embalagens, para minimizar o impacto ao consumidor. Corra para garantir o seu antes do verão! Continua proibido o uso de energia elétrica residencial entre 10h00 e 18h00...
Está espantado pelo horror acima? Não deveria, pois estamos entrando numa nova era que vai fazer você correr atrás da evolução humana. Ah, não gostou da maneira rude de tratar vítimas? Mas, isso já acontece você é que não percebeu. Traduzindo, quando há excesso de alguma coisa, qualquer que seja (produto ou não) ele se torna banal e é tratada como produto/relação de fornecimento (humano ou não). Motivo de piada, ou pior: de análise pelos comentaristas. Passada esta fase, vira escárnio, matéria fria, jornal de ontem e entra para o rol das obscenidades, indignas de nossa atenção.
Mas, isto é bom, dizem os especialistas. Se aumentarem as catástrofes, por exemplo, pelo aquecimento global haverá uma padronização na maneira pela qual se mostram os acidentes. Isto vai facilitar a comunicação, embora as vítimas percam status, pois serão tantas que a pauta apenas considerará a contagem de corpos. Enquanto isso, a parte que restou da “economia de mercado” continuará a consumir informações, produtos, comentários e ilusões. Tudo tem um lado positivo e deve ser capitalizado para balanço do sistema. Relaxe. As coisas são assim, dizem os consultores. Não ligue se o modo de vida que conhecemos desabar por suas contradições internas, seja assertivo e busque o sucesso. Dê-lhes seu relógio, assim eles saberão quanto tempo falta para esquecerem você. Ora, vamos! Ninguém é insubstituível. Motive-se! O mundo não acabou!
Parece, mas não é ficção. A pós-banalização já ocorre hoje em todas as modalidades, inclusive a corporativa, trazendo influências sobre o modo de pensar o jogo. Quer um exemplo? Análise de competências. Após o estabelecimento das últimas métricas, acaba de surgir outra, que fica no limite entre o cinismo e a necessidade. Ninguém acredita mais que pode mudar o mundo, no entanto, também está difícil controlá-lo, sequer geri-lo! Agora, para medir a velocidade do naufrágio todos arriscam um palpite. Uma convulsão alhures em ultramar pode ter impacto arrasador, só que agora não são as grandes movimentações de capital “opressor” que assustam, mas a quebra da matriz energética e moral.
Estamos ficando sem o combustível e o equilíbrio necessários para a infraestrutura, ou seja: civilização e sociedade passarão a ser mais caras, nas próximas décadas e isto é assunto que desagrada. A ascensão da classe D vai ser a última grande notícia antes do fim. Afinal, se para suprir a demanda da classe anterior (C?), barateamos os produtos, institucionalizamos o trabalho semi-escravo, pintamos bonecas com tintas tóxicas e envenenamos o planeta e a alma. O que teremos que fazer quando as hordas de excluídos e mercadológicos - agora bilhões multiplicados pelo efeito crédito + bolsa-família - baterem nos magazines, varejos e botecos para consumir? Os melhores de nós, ainda penduram faixas nas favelas clamando: Ajudem a alimentar nossas Crianças! Faltou alguém perguntar: Não seria melhor ensinar a planejar sua existência? E quando as bocas gritarem mais que a força de nossos corações? O que será?
Não é hora de ficar adaptando as situações, muito menos comprar créditos para ligações interestelares. Você precisa deixar os segredos dos hábitos eficazes de lado e ir comprar protetor solar! O repelente já terminou. Crianças são jogadas das janelas e nos distraem da monotonia do descaso com a coisa pública. Enquanto isso desponta o faroeste na Amazônia e alterações no clima. O barril de petróleo chegará logo à U$ 200.00 e, mesmo antes do terremoto da semana passada o clima já não era mais o mesmo. Vai ficar aí parado, pensando no novo modelo de celular? Ou, então, de alguma maneira devemos começar a modificar este quadro, atuando e se fazendo ouvir? E vocês que detém ou comandam a cadeia produtiva: que tal fazer um investimento de longo prazo antes da extinção dos mercados? A mídia não cansa de gritar, mas como vivemos numa democracia há uma maioria de surdos. FYI: Não responda em PVT. Ah! Pls: ASAP.
Luís Sérgio Lico é Mestre em Filosofia das Organizações e Especialista em Desenvolvimento Profissional. Palestrante, Motivador e Autor dos Livros: O Profissional Invisível e O Fator Humano. Visite o site: www.consultivelabs.com.br