A MULHER ADULTA QUE NÃO ADULTERA

O que leva uma mulher a cometer o adultério?

E eis que levaram aquela mulher para ser

apedrejada, pois havia sido flagrada em

adultério, e diante de Jesus, o mestre

diz: “aquele que estiver isento de pecados

que atire a primeira pedra” – ao ouvirem a

sentença um a um dos homens foram se

retirando.-Ele, o justo diz: “Mulher, se

nenhum dos homens te condenou, eu

também não te condeno, vá em não tornes

a pecar.- Jesus (JOÃO, 8 : 1 a 11)

Naquele instante o Nazareno não se importou com o passado daquela pecadora, não perguntou a ela qual o motivo que a levou dar aquele passo. Não lhe indagou por onde estava o seu marido; simplesmente lhe alerta para que não voltasse a pecar.

Estaria o guia e modelo da humanidade fazendo apologia ao adultério?

Excetuando-se os casos de imaturidade psicológica, estatisticamente, podemos afirmar que raramente na sociedade machista que vivemos, encontramos casos de mulheres maduras que tomam o passo da dita traição.

Culturalmente e ainda sedimentada pela idéia de nossos avós, onde a mulher nasceu para servir o seu senhor, ainda hoje encontramos muitas delas que atravessam toda uma vida de sofrimento e renúncia, resignando-se diante do seu amo todo poderoso, que via de regra impõe-lhe seus deveres, determinando toda a natureza de vida que aquela serva deverá seguir.

Como diz o poeta “sem se importar se ela tinha vontade ou não” - seus desejos são só seus,-prazer é coisa de homem,-mulher deve simplesmente obedecer e servir.

O leitor contemporâneo e atento deve imaginar que certamente tais fatos são decorrentes de situações totalmente obsoletas e que já nos dias de hoje, tudo isso não mais comunga com a nossa realidade, questões essas que sempre servem de enredo para as novelas de época. Todavia, se ingressarmos nos bastidores das delegacias de mulheres em todo o país, tal fato é muito mais corriqueiro que a modernidade urbana possa expressar.

Num mundo onde já temos toda uma tecnologia de ponta, em que computadores mais sofisticados só faltam expressar sentimentos, vira e mexe, deparamo-nos com homens robotizados que seguem seus antigos modelos medievais e atavismos culturais, onde a lei do mais forte se faz prevalecer.

Ora, ora, pois, pois podem exaltar os fariseus da modernidade de plantão: Isso não pode acontecer, porque a mulher de hoje já tem acesso às informações e há muitos recursos a lhe fazer valer os seus direitos... Realmente, não podemos desconsiderar todos os passos que a civilização atingiu, mas levantem-se aquelas que nunca souberam dizer o que significa a palavra prazer. Quantas que se submetem aos seus maridos por dependência financeira e psicológica? Nesse intervalo, muitas certamente até podem saber se expressar, mas diante de toda uma estrutura comportamental e ainda seguindo os paradigmas daqueles que determinaram como deve ser a vida daquela mulher de “Atenas”, acomodam-se, restando aos seus travesseiros somente o cúmplice das suas queixas mais íntimas.

Quando os noticiários registram casos de adultérios de fenômenos da mídia, praticados pela figura do macho, logo, logo, outros se apressam para em seguida restabelecer a moral e os bons costumes, fazendo valer que a mulher pode e deve perdoar sempre. Mas como se lê as gazetas matutinas quando ocorre o inverso, quando a mulher fora flagrada em tal “pecado”?

Será que por algum momento buscaram entender quais os motivos que a levaram a tomar tal rumo, e em que circunstância nasceu essa insatisfação?

Que tipo de relação havia entre aqueles cônjuges? Será que sempre houve respeito à voz daquela que lhe dorme ao seu lado? Será que suas queixas por algum momento foram percebidas por aquele que se intitulara seu feitor, dono da sua vontade, determinando-lhe como e quando poderia e deveriam ser as coisas na cama, na sala ou no jantar?

Não levantamos aqui a bandeira do adultério feminino e nem fazemos proselitismo diante da luta feminista, até porque também reconhecemos que há muitas mulheres que chegam a ser mais machistas do que qualquer ditador militante. Certamente, só conseguiriam entender a dor e o sofrimento de suas irmãs ou de suas mães, caso passassem por situação semelhante.

A mulher adulta e madura que ama e verdadeiramente é amada, ousamos afirmar que não trai de maneira alguma suas convicções e o seu amado.

Quando o Galileu afirmara praquela mulher “vá e não tornes a pecar”, ali Ele em momento algum exigia que ela restabelecesse a união com o seu ex marido, visto que o que era sagrado já deixara de ser, todavia ressaltava-lhe a necessidade de restabelecer naquela sofredora a honradez, a auto estima, a devida valorização da sua postura diante da sociedade.

A Mulher moderna, executiva, operária, mantenedora do seu lar, que mesmo dando conta de três expedientes – trabalhadora dona de casa, mãe e companheira - conseguiu dar largos passos é verdade no nosso mundo dito civilizado, porém para essas pegadas ficarem firmadas no solo da humanidade, cabe a ela mais uma e cada vez mais ser assertiva em suas proposições. Seja o seu falar sim, sim, não, não, com transparência, sem nunca perder a sua doçura, seu carinho que lhe é peculiar. Pois nós pobres homens imaturos que tanto dependemos do seio dessa santa em forma de gente, quando recebermos desde o abrigo do seu ventre a educação que precisamos ter, a partir daí a sociedade terá dado o passo para um mundo de regeneração.

A mulher psicologicamente adulta não adultera por ter suas bases bem estruturadas, sabe que o seu corpo não se resume ao seu quadril. O companheiro dessa guerreira que não usa armas pra atacar ninguém consegue perceber essa mulher com suas virtudes e a sua trajetória no mundo é movida por atos que demonstram sê-lo um ser que se identifica como do sexo masculino não tão somente por usar calças , mas principalmente porque o é também do pescoço para cima.

Ambos ao se integrarem em corpo e espírito na acústica do lar, ao buscarem incessantemente a harmonia dos seus sentimentos, estarão dessa forma através da célula máter da sociedade, germinando pontos de luz num mundo ainda obscuro, inebriado pelas vicissitudes.

PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS)

20/05/2008