Não perdemos apenas Marina

A queda de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente era, como diziam os mais antigos, “favas contadas”. Tratava-se apenas uma questão de tempo, uma vez que a política por ela desenvolvida, embora bloqueada de certa forma pelo governo, era contrária aos interesses de poderosos.

Na verdade, não perdemos apenas Marina, aquela figura simples, competente e carismática. Perdemos muito mais, para não dizer perdemos praticamente tudo. Há muito que nossas reservas naturais, a biodiversidade e todo o bioma nacional é alvo da cobiça de nações e grupos estrangeiros, sob as vistas complacentes, para não dizer omissas e até criminosas de nossas autoridades, em todos os níveis.

A exploração ilegal de madeiras na Amazônia, mais do que um caso de polícia, tornou-se um escândalo mundial, que todo mundo tem conhecimento e soluções, menos as autoridades (in)competentes do Brasil. Como tem muito dinheiro (e dinheiro subentende um poder sem limites) todos têm medo de chutar o balde, temerosos das represálias.

Que o diga, se ainda pudesse falar, a missionária americana, naturalizada brasileira, Dorothy Mãe Stang, assassinada pelos mesmos poderosos, em Anapu, no Pará, em 2005. Apesar da farsa que foi o julgamento do mandante do crime, seu legado permanece vivo como uma denúncia contra a opressão: “Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”.

A ex-ministra Marina esteve engajada desde as lutas de Chico Mendes, com quem fundou em 1985 a Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Acre, da qual foi vice-coordenadora até 1988. Ela renunciou ao cargo em 13 de maio de 2008 por conta de pressões internas e externas, alegando falta de apoio oficial à política ambiental do ministério por ela dirigido. Não se trata de mais um ministro que renunciou, afinal foram tantos, a maioria incompetentes, que a nação nem chegou a lamentar.

Com a saída de Marina da vigilância do meio-ambiente, a coisa vai ficar mais ou menos do jeito que o diabo gosta. Não levo a mínima fé nesse novo ministro. Trata-se de um político, sujeito a todas as chuvas-e-trovoadas que move esse tipo de gente. Ela não saiu como a maioria dos ministros. Saiu com a consciência do dever ético levado quase às últimas conseqüências.

Com a saída de Marina perde o Brasil, perde sua biodeversidade, as florestas amazônicas, as reservas de madeira, os rios, a mata atlântica, o campos do sul e toda a natureza brasileira, assolada pela devastação dos madeireiros, pela ambição dos plantadores de eucalipto e pelo marketing das fábricas de celulose.

O Dia 13 de maio, dia da Abolição tornou-se um dia triste para o Brasil. Perdemos uma mininstra negra e, mais que isto, abriram-se as portas à devastação e aos predadores de nosso patrimônio natural. Vai acentuar-se a subserviência e a escravidão brasileira aos poderes internacionais.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 19/05/2008
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