GUERRA CIVIL PELA POSSE DA TERRA
Há tempos, determinados veículos da imprensa brasileira vêm noticiando com ênfase, para não dizer com estardalhaço, supostas declarações de lideranças de entidades como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e outras congêneres, que conteriam incitação à violência aos seus integrantes.
O que realmente existe por trás dessas notícias? De quem são os interesses que elas protegem? Tais notícias, obviamente, visam resguardar os interesses de grandes proprietários, difundindo uma idéia distorcida a respeito da ação dos integrantes desses movimentos; há inequívoca tentativa de associar os integrantes de movimentos populares a baderneiros irresponsáveis e criminosos perigosos, como forma de afastar suas ações políticas da simpatia popular.
Fala-se de ações violentas atribuídas aos Sem-Terra, aos Sem-Teto e outros, entretanto, omite-se a violência da exclusão social e da conseqüente usurpação do direito ao exercício pleno da cidadania de milhões de brasileiros. Atos isolados de militantes desses movimentos são atribuídos às entidades que pertencem.
Os detratores dos Movimentos Sociais vaticinam que estamos no limiar de uma Guerra Civil que será perpetrada por esses movimentos em atividade. Na verdade, essa guerra já existe há muitos anos. Não é conduzida por nenhuma entidade em especial e todos nós, de alguma forma, participamos dela, seja como agentes impulsionados pela falta de perspectiva e descrença no Poder Público, seja, de outro lado, como gestores (conscientes ou não) do sistema que a alimenta a cada dia.
As ações dos integrantes das entidades acima referidas não são causas de conflitos de classes, são resultados desses conflitos. A solução para essas questões só serão possíveis através de políticas públicas que minimizem as diferenças sociais e dêem a todos iguais condições para uma vida digna.
Enquanto isto, a imprensa burguesa, a serviço dos grandes proprietários, não mede esforços para reforçar cada vez mais a idéia de que ocupar imóveis ociosos e improdutivos é crime. Aliás, o verbo ocupar não existe no vocabulário dos detratores desses movimentos populares: usam o verbo invadir, que possui uma conotação de agressividade e, portanto, causa maior impacto. Outra questão que é trabalhada por essa imprensa é o conceito de “improdutivo”.
As entidades de Sem-Terras consideram improdutivo o imóvel que poderia ser produtivo, mas que está ocioso. Já a imprensa que as ataca utiliza o termo improdutivo no sentido de estéril: assim, quando os Sem-Terras ocupam uma área sob a alegação de que se trata de terras improdutivas, os seus desafetos reagem dizendo que não são improdutivas e justificam que são terras férteis.
Trata-se de um conflito de classes em que os dois lados utilizam de estratégias para permanecer no jogo, embora seja uma luta desigual, haja vista que um dos lados conta com o poder do dinheiro, dos políticos conservadores, das armas, de grande parcela do poder público e de uma imprensa com inexorável capacidade de influenciar a opinião pública. È uma guerra civil que se arrasta ao longo dos anos e já fez muitas vítimas. Não há como prever o seu desfecho.