VIVER BEM O DIA DE HOJE
Comenta-se que certa vez pediram a Sindarta Gautama (o Buda) que falasse sobre o que mais o incomodava na humanidade, e ele calmamente respondeu: “Os homens que perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. As pessoas que adoecem por pensar ansiosamente no futuro, esquecendo o presente, de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro; são pessoas que vivem como se nunca fossem morrer e morrem como nunca tivessem vivido”.
Buda fala, obviamente da importância de se buscar a qualidade de vida e viver intensamente o presente. O passado é a base da nossa experiência de vida, formada das nossas vivências, dos nossos erros e acertos. Para reforçar a idéia de se viver o presente, cunhou-se a expressão francesa, de tendência anarquista, “Carpe Diem”.
Segundo Marcela Campos, em seu artigo “Por que Carpe Diem?”, publicado no site www.dialogosuniversitarios.com.br/pagina.php?id=925, Carpe Diem quer dizer “colha o dia”, “aproveite o momento”, isto é, “Colha o dia de hoje como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre; a vida não pode ser economizada para amanhã: acontece sempre no presente”.
A expressão tornou-se popularizada no mundo inteiro a partir do filme “Sociedade dos poetas mortos”, muito utilizado como instrumento de debate nos meios universitários brasileiros, produzido nos EUA no ano de 1989, dirigido por Peter Weir e estrelado por Robbin Willians.
O filme conta a história de um professor, interpretado por Willians, que tenta desenvolver um método revolucionário de ensino na Welton Academy, colégio estadunidense tradicional e conservador, destinado apenas a rapazes da classe média-alta, nos idos de 1959. Durante as aulas, o professor usa a expressão como forma de estimular os alunos a buscarem prazer no cotidiano, inclusive nas atividades letivas. O resultado, como não poderia ser diferente, é uma série de conflitos entre a visão conservadora da direção da escola e dos pais e a visão libertária que o professor infunde nos alunos.
Rubens de Campos Filho escreveu o livro “As reflexões tardias do prof. Borg” inspirado no personagem principal do filme “Morangos Silvestres”, de autoria de Ingmar Bergman: o personagem é um professor que, após 50 anos de carreira, começa a fazer uma reflexão sobre o que foi sua vida pessoal e profissional. Campos Filho alerta para o fato de que é preciso investir em lazer e em coisas que reforcem o prazer de viver, e não simplesmente deixar a vida passar à espera de um momento propício para gozá-la – o que poderá ser muito tarde. Segundo esse autor, há necessidade de que cada um priorize a sua relação com o mundo e aprenda a conduzir sua vida a partir do seu íntimo, ou seja, de dentro para fora, e não de fora para dentro.
Mas, e no nosso cotidiano, na nossa vida prática, o que essas referências podem significar? Ora, uma reflexão sobre a vida nos leva à frustrante redescoberta daquilo que todos nós sabemos, mas que fazemos de conta de que não sabemos: a nossa vida é extremamente curta. Alguém já disse que quem passa a juventude e a maturidade pensando em se aposentar para aproveitar a vida, certamente descobrirá, ao chegar à velhice, que não viveu.
Para quem acredita em vida depois da morte fica o alento de que os prazeres que não se gozou aqui serão gozados plenamente em outra dimensão. Para quem não crê nessa tese resta procurar viver ao máximo possível cada dia, não se eximindo, obviamente, das responsabilidades que cada um de nós temos enquanto cidadão, especialmente no tocante ao respeito pelos direitos dos outros. É perfeitamente possível viver plenamente, buscar o máximo de prazer no dia-a-dia, sem ser irresponsável.