SACERDOTES: QUASE-DEUSES INTOCÁVEIS
Como seres imperfeitos que somos, a nossa racionalidade nos impele à necessidade de acreditar em pelo menos um ser perfeito, um ser superior. É uma forma de compensar a nossa sensação de impotência, ao nos percebermos tão pequenos diante da grandiosidade (ainda inexplicável na sua quase totalidade) do universo que nos cerca.
Além da crença em seres metafísicos que perpassam a nossa medíocre condição animal, temos a tendência de personificar a perfeição em determinadas pessoas ou personagens do nosso convívio. Personagens de filmes, de livros (fictícios ou reais), gente que ocupa lugar na mídia, são alguns sujeitos passivos dessas ações. Porém, os sacerdotes são os que mais encarnam essa relação de perfeição: são vistos como os verdadeiros representantes de um ser supremo na terra e, conseqüentemente, encarnam a perfeição do ser que representam. Pastores evangélicos e padres são tidos como verdadeiros ícones, exemplos de dedicação e respeito pelo próximo.
No Brasil, que é considerado o maior país católico do mundo (creio que ainda o é!), os padres se destacam em relação aos pastores evangélicos em termos referenciais já que o número de “fiéis” que reverenciam os padres é muito maior que os que reverenciam os pastores. Na prática, esses líderes religiosos são considerados pelos seus “fiéis” como quase-deuses.
Essa relação implica numa luta tenaz das instituições religiosas, destaque para a Igreja Católica, no sentido de manter a imagem de quase-deuses dos seus sacerdotes. Há uma necessidade premente de se preservar do vulgo a possibilidade de um padre, por exemplo, de cometer atos reprováveis, especialmente no tocante à questão sexual.
Recentemente ouvi um comentário de alguém que citava casos de perversões e prevaricações de padres e perguntava ao final dos seus relatos: “Já ouviu falar de algum padre que foi punido pela igreja por questões sexuais hetero ou homossexual?”, em seguida afirmou categoricamente: “Nunca houve! Há por aí um monte de padres envolvidos com mulheres, inclusive com mulheres casadas, há padres envolvidos com parceiros homossexuais, com meninas pré-adolescentes, muita gente sabe, a cúpula da igreja também sabe e finge não saber!”.
Sabe-se, entretanto, que os casos de pedofilia envolvendo padres no mundo inteiro têm tido um tratamento especial ultimamente, quando denunciados e divulgados pela mídia, devido a insistentes intervenções de correntes religiosas contrárias.
É preciso ressaltar que a questão da sexualidade não é algo que se decide bloquear, ou sublimar, com um simples envolvimento com a questão espiritual: seria ir de encontro à natureza animal do ser humano. Os chamados “Eunucos Espirituais” é uma grande falácia; a sexualidade está presente em cada ato de cada ser humano: não seria diferente com os padres.
A Igreja Católica precisa rever a prática do celibatarismo, para que seus sacerdotes sejam vistos como pessoas comuns e, ao contrário do que fazem hoje, possam viver a questão sexual sem mentiras e sem culpas. Paralelo a isto, precisa investir num sistema de seleção mais acurada de seus seminaristas, para que tenham sacerdotes éticos, honestos, francos, íntegros, que saibam, sobretudo, respeitar o próximo; que consigam unir o discurso à prática dos seus atos. Que os padres deixem de ser considerados quase-deuses protegidos a ferro e fogo por uma cúria corporativista; sob pena de que as mudanças comportamentais, originadas da velocidade com que os conhecimentos viajam pelo mundo, estará, num futuro próximo, selando de vez a falência da Igreja Católica.