O TRABALHO NO FUTURO
"As pessoas têm mais consciência do que fazem, da necessidade do trabalho, do descanso e do lazer. Não há correrias. Não há ansiedade excessiva em relação ao trabalho, porque as pessoas não precisam estar preocupadas o tempo todo com a competição. Cada um tem a sua parcela de trabalho e sua obrigação em contribuir, não ficam o tempo todo pensando em ultrapassar os limites para poder estar sempre à frente de qualquer pessoa, para não perder o seu lugar na sociedade. Isso praticamente acabou (...) Melhorou o padrão de vida também. As pessoas vivem mais e melhor." Parece futurista? De certa forma é. O trecho acima faz parte do livro Viagens Psíquicas no tempo, de L. Palhano Jr., editado em 1998, e refere-se a uma ida ao futuro do ano de 2150 de Jamile d'Alambert, quando em transe canalizado.
No entanto, parece que estamos um pouco mais perto desta realidade uma vez que já aparecem idéias contrárias ao modelo atual de produção e renda. Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor do Instituto de Economia, em palestra no SINDEEPRES, no dia 29 de abril, discursou sobre a organização sindical dos trabalhadores e seus desafios. E um dos temas apontados foi justamente a redução de jornada de trabalho. Pochmann analisou a economia dos últimos dois séculos passados preocupada apenas com a arte de produzir o ter, onde se criou a idéia de que bem estar é possuir bens materiais.
Em tempos feudais toda família trabalhava na produção da lavoura. Na época da Revolução Industrial, era comum jornada de 16 horas de trabalho e crianças de cinco anos já nas áreas de produção. Veio a redução para 8 horas e proibição do trabalho de menores de 16 anos após lutas sindicais.
Hoje, com as novas tecnologias, o trabalhador continua em serviço mesmo quando está em casa, usando seu micro e atendendo telefonemas sobre serviços. "Fala-se com qualquer pessoa no mundo, mas não tem tempo para falar com o filho, estamos diante de uma crise de sociabilidade".
Fortificou-se ainda mais a sociedade do ter: "Somos pelo que temos". Pochmann analisa que mesmo para o lazer precisamos ter dinheiro para usufruir. Para o professor somente a educação poderá mudar esta crise da sociedade. "Hoje a escola produz uma massa de personalidade depressiva, um modelo educacional que não atrai jovens. Muitos são trabalhadores que estudam e não estudantes que trabalham. É preciso incutir o desejo do estudo não apenas para o trabalho, mas para a vida. Mesmo porque há hoje cada vez mais necessidade de estudo ao longo da existência." Pochmann também é favorável à criação de um fundo público para que o filho do pobre possa estudar.
De outro lado observa-se que a produtividade material não está sendo dividida e o que mede sua produtividade é o quanto se adquire materialmente. "Duzentos e cinqüenta mil clã de famílias dominam 50% da riqueza mundial.” A economia atual é uma máquina de gerar desejos e provocou-se um mal estar social.
Para que esta situação se reverta em prol de um maior número de pessoas, Pochamnn vê a necessidade de redução da jornada de trabalho. "É possível produzir para todos, com uma redistribuição do tempo trabalhado. Atualmente, em cada três aposentados um está trabalhando. Cinqüenta por cento dos trabalhadores fazem hora extra. Se houver políticas para melhor administrar esta temática, ampliará a possibilidade que todos tenham uma oportunidade de trabalho. É possível tecnicamente."
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