TELEVISÃO: ÓBICE À EDUCAÇÃO E CIDADANIA
Não há dúvidas de que o caminho para a solução dos problemas sociais, econômicos e políticos que enfrentamos tem, necessariamente, que passar por investimentos na educação. As autoridades políticas não podem ignorar essa realidade. Onde a educação é deficiente torna-se um terreno fértil para a televisão se afirmar como instrumento formador de hábitos e costumes voltados para o consumismo que alimenta seus interesses mercantilistas.
Investir em educação é investir no processo de desarticulação do indiferentismo político, social, moral e intelectual do povo. É abrir espaço para a criticidade dos indivíduos. Esse investimento só é possível a partir da criação de escolas com infra-estrutura suficiente, melhoria dos salários, capacitação e melhoria das condições de trabalho dos professores; desenvolvimento de políticas públicas que possibilitem a melhoria da qualidade do ensino público e facilitem o acesso das camadas populares a todos os níveis de esclarização, inclusive, de 3° e 4° graus.
Como parte do investimento na educação é necessário que se reduza o poder mídia televisiva na formação de opinião. Não se trata de propor aqui o fim da televisão como instrumento difusor de informações e promotor de entretenimento, mas de propiciar aos telespectadores uma visão crítica sobre os interesses capitalistas camuflados por trás de tais informações. Nesse processo, o hábito de leitura surge como meio eficaz de aprimoramento dos conhecimentos, aquisição de senso crítico e crescimento pessoal, ou seja, um meio eficaz de desalienação do povo.
Na sociedade atual não há como conceber a educação sem leitura. Ler é se abrir para o mundo. O cartunista, chargista e escritor mineiro, Ziraldo Alves Pinto, autor de “O Menino Maluquinho”, “A Turma do Pererê”, “Menina Nina” e “O Menino é Seu Amigo” defende a idéia de que a prática da leitura, por si só, chega a ser mais importante até mesmo do que estudar de maneira formal. Em entrevista recente ele esclareceu que “Só um povo que lê é capaz de racionar e entender as coisas. Por isso, temos que fazer do Brasil um país de leitores”.
Idéias como a de Ziraldo precisam ser cultivadas, regadas e reproduzidas o tempo todo. É claro que o estudo regular, em qualquer nível, é de suma importância, contudo, o hábito de leitura, além de levar o indivíduo ao amadurecimento pessoal, proporciona-lhe uma leitura crítica do mundo – conforme Paulo Freire, no livro “A importância do ato de ler”, a leitura crítica do mundo precede a leitura da palavra escrita.
Segundo a perspectiva de Paulo Freire, a leitura não se restringe à palavra escrita, mas a tudo aquilo que ocorre no mundo e que chega ao conhecimento do indivíduo. Dentro dessa visão, leitura pode ser definida como o ato de perscrutar, investigar, pesquisar, enfim, buscar os porquês de tudo aquilo que chega ao nosso conhecimento; é a ação de pensar, refletir.
Torna-se imperioso vencer as barreiras alienantes de uma cultura que se assenta sobre práticas que impedem as pessoas de pensar criticamente. A televisão, nesse contexto, como já foi dito, é o principal mecanismo de massificação, capaz de interferir de forma inexorável sobre a formação de novos hábitos e costumes, especialmente daqueles comportamentos que têm por escopo reforçar a lógica capitalista. Preso a essas teias, o cidadão só poderá libertar-se a partir de uma educação de qualidade: a educação possibilita a cada um desenvolver a capacidade de entender, avaliar e julgar toda e qualquer informação que lhe chega.
A educação é o principal instrumento para socializar o ser humano; é condição sine qua non para que cada indivíduo adquira a consciência dos seus direitos e deveres e do seu papel enquanto membro ativo de uma sociedade – é a condição primeira para se tornar cidadão.