FSM INSTRUMENTALIZADO PARA PROPAGANDA TOTALITARISTA
Em fevereiro de 2003
No FSM, o físico cubano Juan López Linares tornou-se objeto da fúria do ator americano Danny Glover, 1,95 m.
Linares saiu de Cuba em 1997 para doutorar-se em Física na Europa. O regime castrista barrou sua volta a casa, onde sua mulher se vê privada de dar a conhecer ao pai o filho Juan Paolo, de 4 anos. Mãe e filho não podem sair da ilha ao encontro do pai, que atualmente reside em Campinas.
Glover veio ao Fórum envolto na aura de astro militante de Hollywood. A mística de ator famoso o habilita a opinar sobre assuntos da alçada de filósofos, cientistas políticos e moralistas, entre outros. Os astros têm sido capitalizados por partidos políticos para fins eleitoreiros, especialmente nos países comunistas. Uma mistura explosiva de diversão e reflexão política, em que esta última corre o risco de acabar diluída e inócua.
O Doutor López foi entrevistado por 4 canais de TV, 7 emissoras de rádio e o jornal Zero Hora, RS. Aleida Guevara, participante do Fórum e filha do revolucionário argentino Ernesto "Che" Guevara, não atendeu a dois convites da mídia para debater com o físico.
Quando López e Glover esperavam na ante-sala do estúdio da filial da Globo para ser entrevistados, o ator furou a fila e ocupou o horário que estava marcado para o Doutor cubano.
Depois, na segunda-feira, 27/03, enquanto López era entrevistado por uma emissora de rádio, o ator encenava o "militonto" em manifestação na Universidade Católica. Ao ser abordado por Paulo Sanchotene, do Instituto Liberal, que colhia assinaturas em apoio aos direitos humanos em Cuba - com fundamento no artigo 13º da Declaração dos Direitos do Homem -, Glover, segundo Sanchonete, “quase partiu pra cima”. Irado e aos berros, o ator qualificou o pai cubano de “egoísta” que antepõe às conquistas revolucionárias um “caso pessoal”. O astro foi contido por seu assessor.
O ditador Fidel Castro e a esquerda nele inspirada não desconfiam que sua intolerância aos “dissidentes” evoca o tratamento dado aos hereges pela Inquisição (que aqueles execram como obscurantista)? Assim perdem preciosa oportunidade de se redimir dos atentados aos direitos humanos verificados no regime castrista. Em entrevista, López destacou que cerca de 11% da população cubana, entre exilados nos Estados Unidos e presos políticos, ficaram alijados do Fórum, onde o físico foi a voz que clama no deserto em meio aos 300 participantes governistas enviados por Castro.
O alerta do escritor, filósofo e jornalista Olavo de Carvalho é muito oportuno. O fenômeno do jornalismo militante, presente em muitos setores da mídia, remete o jornalista a se assumir como agente de transformação social a ponto de degenerar-se em mero propagandista. Fica assim comprometida a missão profissional de informante veraz imparcial.
Até as incoerências do governo federal, especialmente na política externa, têm sido negligenciadas por grande parte dos meios de comunicação. O governo declara seu compromisso com a democracia mas não tem sinalizado qual o posicionamento brasileiro diante do não reconhecimento, pela ditadura cubana, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, cujo relatório aprovado em 16 de abril de 2002 lança luz sobre a lamentável situação dos direitos humanos em Cuba.
Outro dia encontrei um jovem piauiense metido numa camiseta do Che. Quão eficaz foi a remoção da Filosofia de nossos currículos escolares desde a ditadura militar! O mesmo efeito é conseguido nos regimes comunistas pela redução da Filosofia ao materialismo dialético. O teólogo da libertação Leonardo Boff tem homenageado “Che”. Mas foi Ghandi quem militou evangelicamente ao conduzir seu projeto político centralizado na ética. Não houve fins assim tão nobres que o demovessem de eleger apenas meios pacifistas. A ética não foi atropelada, ou travestida em componente ideologicamente conveniente.
É preciso prudência com o jornalismo militante, que promove os
"militontos" ´- único caminho para remediar a utopia socialista de seus desvios históricos e éticos.