Megatendências - Parte 1
Um grande trabalho dos profissionais de Marketing e ciências correlatas, é a previsão do futuro. Previsão que se faz, não a partir de cartas, búzios, ou qualquer outro tipo de análise exotérica, mas a partir de uma análise profunda do comportamento humano, e suas implicações com nosso mundo contemporâneo. Esta análise é feita, baseada em estudos psicológicos, sociológicos, e empresas a utilizam para direcionar seus negócios, buscando novas oportunidades de mercado, desenvolvimento de novos produtos, e conseqüentemente novas formas de se manter no mercado, atendendo às mudanças de comportamento dos consumidores.
Dentre os profissionais desta área, uma que certamente todo profissional de Marketing conhece, chama-se Faith Popcorn. Esta senhora, conhecida de uma forma brincalhona de “Senhora Pipoca”, é uma ex-publicitária, com grande especialização em Marketing, e fundou em 1974 uma empresa de consultoria – a Brain Reserve - para analisar o comportamento do homem moderno, identificar as novas tendências, para que sirva de base para novos empreendimentos. Esta empresa atende a empresas que estão entre as 500 maiores, publicadas na revista Fortune, e o preço da consultoria ultrapassa a casa de US$ 1 milhão. Sua principal publicação editorial, é um livro chamado “Popcorn Report”, ou, em português, “Relatório Popcorn”, onde é retratado dez das principais tendências do homem moderno. As edições são revistas e ampliadas, conforme suas novas pesquisas, e as atualizações destas tendências comportamentais.
Desta vez, vamos analisar desta vez, apenas duas: “encasulamento” e “retorno às origens”. Retrata no livro, que os homens do mundo moderno estaria voltando às suas origens em dois sentidos: ficar em suas modernas cavernas, e buscar coisas de antigamente, de forma mais natural, muito parecidas com aquilo que tínhamos de nossas avós. Assim, notamos que estamos cada vez mais em nossos apartamentos ou casas, com um crescimento muito grande das vendas com entregas a domicílio, o que chamamos de “delivery”. Temos “disk-tudo” no mundo de hoje. É pizza, farmácia, lanches, fitas de vídeo, DVD, e se formos mais a fundo, encontramos até mesmo massagens eróticas e outros serviços mais reservados. Tudo isso, devido à busca de segurança, nos condomínios cada vez mais fechados, e a um melhor conforto, pois temos em uma pequena sala, ambiente artificial de uma grande sala de cinema, ou até mesmo de um imenso estádio de futebol. Basta ligar o “home-theater, com simulador de ambiente, que temos tudo isso. Mas também queremos ter, ao invés da pizza congelada ou do biscoitinho industrializado, uma pizza feita na hora, em um forno a lenha, e um biscoito de polvilho, feito com um puro polvilho de mandioca, e um monte de coisas vindas do campo. Tem até feira, em São Paulo, onde as hortaliças são criadas sem quaisquer tipos de agrotóxicos, onde o consumidor exige ver a lagartinha passeando pela folha de alface.
Mas o que mais temos hoje, é um contra-senso destas duas tendências: nos encasulamos tanto, que, via internet temos um mundo para nos comunicar, e não sabemos dizer bom dia ao nosso vizinho, no elevador. Temos amigos em pontos mais distantes do mundo, e não sabemos sequer o nome do porteiro do edifício. Então, em nossas andanças pelas pequenas cidades do interior, encontramos uma senhora, que, depois de 35 anos de bons serviços prestados a um grande banco, aposentou-se junto com seu marido, e resolveram buscar uma pequena cidade, “nas barrancas” do rio Paraná, onde os poucos mais de 35 mil habitantes, eram velhos conhecidos, e se cumprimentavam todas as vezes que se encontravam.
A primeira semana na nova cidade, foi uma maravilha. Ela adorava dizer “bom dia” a todos pela manhã. A segunda semana, foi deliciosa. A terceira, gostosa. A quarta, muito calma, e da quinta em diante, passou a ser entediante. Nada acontecia naquela pacata cidade. As únicas novidades vinham pela televisão... Então, aquela senhora, que procurava um lugar manso e pacífico para sua velhice, descobriu que seu retorno às origens estava destruindo sua vida. Até um tratamento psicológico foi recomendado, para acabar com aquela depressão que vinha batendo à sua porta.
Foi quando, então, aquela quase depressiva senhora, descobriu uma nova origem a ser buscada: vida social. Uma vida que ia além das telas de um computador, ligado à internet, e muito além de um grande fluxo de pessoas de sua antiga agência bancária, as quais ela só conhecia no atendimento do balcão. Assim, aquela senhora deu um basta aos “delivery’s”, aos “disk-tudo”, e passou buscar sua pizza pessoalmente, em companhia de uma ou duas vizinhas, com longas caminhadas e bons papos. Seu encasulamento agora, passou a ser em um ambiente muito maior que as paredes de seu apartamento na capital, e aquela televisão, com todos os recursos modernos, estava em segundo plano. O importante agora, era um retorno às suas origens como ser humano, social, como já diziam os gregos muito antes de todos os Nostradamus contemporâneos.
Pra quem deseja conhecer, hoje existem cidades que seus governantes desejam atrair aposentados, chegando até mesmo facilitar aquisição de moradias. E muitos desses que buscam estas cidades, descobrem que existe um mundo muito maior, fora de shopping center ou de condomínios cada vez mais fechados. É o retorno à qualidade de vida...