MOTIVO DE VERGONHA
A Prefeitura Municipal de São Paulo tem se esforçado no sentido de combater os vendedores ambulantes que perambulam pela cidade. Com auxílio coercitivo da Guarda Civil Metropolitana, a fiscalização da prefeitura apreende mercadorias, retira os trabalhadores da rua e fecha o cerco para que estes não vendam mais seus produtos.
Isto é um motivo de vergonha para qualquer cidadão decente.
Uma pergunta fundamental que eu gostaria de fazer ao chefe do poder executivo municipal, Sr Gilberto Kassab, é esta: Quais as políticas públicas têm sido aplicadas para inserir na economia formal estes trabalhadores? É muito fácil colocar a GCM para correr atrás dos camelôs, difícil é dar a estes a dignidade de uma carteira assinada.
Como estes trabalhadores irão sustentar suas famílias? Os camelôs incomodam, seus produtos são de qualidade duvidosa, mas o que vamos fazer com essa gente? Ou melhor, o que essa gente vai fazer da vida?
Esse descaso com o vendedor ambulante, que é um cidadão como qualquer outro, afronta o princípio constitucional fundamental da dignidade humana. Dar simplesmente a ajuda pecuniária do Bolsa Família ao cidadão pobre, sem criar condições para que este se insira no mercado de trabalho também é uma forma de retirar sua dignidade.
Não há visão mais comovente do que ver um homem em idade produtiva vendendo quinquilharias pelas ruas. Sem direitos inerentes ao trabalho, sem previdência, assistência médica e odontológica inexistentes, sem férias e décimo terceiro. Tudo que ele tem é sua mercadoria e a esperança de conseguir algum trocado para aquele dia.
O Estado neoliberal despreza os valores sociais e tem como fetiche o mercado. Já está mais que provado que o mercado não se auto-regula, o que este faz é excluir aqueles que não se adaptam aos novos modelos.
Quando passamos por determinados problemas entendemos que o fundamento de nossas misérias são maiores que sistemas políticos ou econômicos. O que há na verdade é uma inversão de valores, onde o mercado e o dinheiro valem mais que as pessoas.
Esta é nossa triste realidade.
“Sem o seu trabalho um homem não tem honra, e sem a sua honra se morre, se mata”
(Gonzaguinha)