CARNAVAL A MAIOR FESTA INDIVIDUAL
Nos bons tempos, a relação era verticalizada, o artista reverenciava o povo, era "trio-chão", descia e pulava, vibrava com a massa, aí então, criaram-se plataformas, verificou-se o distanciamento cada vez maior, concretizava-se a exclusão da participação popular. A relação se horizontalizou, passou a ser "artista-camarote". Não esqueço quando as famílias colocavam bancos na Avenida Sete para apreciar o carnaval, costume antigo enquanto o povo era a atração, essa manifestação arrastava milhares de pessoas pelas ruas, hoje, somos arrastados sem nos dar conta, frequentemente a TV mostra o povo boquiaberto cultuando os camarotes nós agora apreciamos os camarotes. Esse papel invertido foi propositadamente trabalhado ao longo dos anos, e aí está.
Hoje o povo é uma conseqüência, até porque, o espaço ainda é público e nada -assim espero- vai alterar isso. Os artistas estão se apresentando para as "celebridades" que descem literalmente do alto, e se instalam em confortáveis camarotes, sem ter que "esbarrar" no povo suado, o foco promocional é se mostrar aos camarotes, a própria TV criou essa modalidade quando deixou de descer do pedestal, e ir ao chão, à rua, ao corpo-a-corpo, mostrar a criatividade, as caricaturas, a verdadeira expressão popular de quem se sentia agradecido pelo reconhecimento do trabalho de todo um ano.
Pois é, a grande praça foi miniaturizada e loteada em pequenas e luxuosas salas-vip.
O carnaval acontecia nas ruas, o povo era a principal atração e razão de ser, era a energia propulsora e reconhecida do arremedo que se encontra a "maior festa popular do planeta" porque se dispersou , se dividiu.
O carnaval deixou de ser a maior festa popular do planeta, e promove agora, em seu nome, a maior festa "prá olhar" de manifestações individualizadas do planeta. Verdadeiras "boites". A turma do axé, que monopoliza o carnaval, será que ainda não percebeu que estão fazendo show para os empresários dos camarotes ficarem cada ano mais ricos, e que os seus próprios camarotes, contribuem para a diminuição dos foliões em seus trios, e se afasta definitivamente o povo.