ATÉ ONDE OS PROFESSORES SÃO CULPADOS?

Recentemente um professor fez uma crítica a um artigo que publiquei, porque, no entendimento dele, o texto atribui responsabilidades aos professores que, na verdade não seriam exclusivas do segmento e sim da família e do sistema educacional.

O artigo, intitulado “O hábito de leitura”, faz uma abordagem sobre a falta de hábito de leitura dos brasileiros. Levanta a hipótese de influência da tradição oral da nossa cultura e/ou da constante massificação de conhecimentos recebidos “prontos e acabados” através da televisão. Faz referências a alguns autores como o cartunista Ziraldo Alves, que afirma que ler é mais importante do que estudar, cita Neidson Rodrigues, Eli Rosendo, Paulo Freire, Lamberto Borghi e Jean Piaget.

O que deixou indignado o professor que fez a crítica foi uma rápida análise, que o texto propõe, da teoria piagetiana de que não é o estímulo e sim a necessidade que move o indivíduo: a necessidade provoca o desequilíbrio que impulsiona o ser em direção à busca do equilíbrio, ou seja, da necessidade satisfeita. A partir da apresentação dessa teoria, concluí, no artigo citado, que “o hábito de leitura só se formará a partir do momento em que as pessoas passem a sentir a necessidade de ler – criar essa necessidade deve ser a principal missão do professor”.

A expressão “principal missão do professor” foi o motivo do questionamento. O nosso interpelante entende que quando se fala em missão do professor tende-se a generalizá-la e atribuir a esse profissional responsabilidades por questões que não lhe são afetas. Responsabilidades do Estado, da sociedade e, especialmente, da família, com a educação das crianças e jovens, segundo o professor, são direcionadas para os professores que acabam sendo considerados culpados pelas deficiências no aprendizado dos alunos.

Respeito a posição do professor que fez o questionamento, entendo seu ponto de vista e até concordo, em parte, com ele. Por outro lado, entendo que não há como melhorar a educação sem um investimento na preparação, qualificação e melhoria das condições de trabalho dos professores. Há professores mal preparados ou desinteressados, especialmente no ensino público; esta é uma verdade – baixo salários e cargas horárias extenuantes são fatores que influenciam essa situação. É preciso deixar claro, entretanto, que existem também muitas exceções.

Conheci uma professora que, ao assumir um cargo numa escola de uma cidade vizinha de Montes Claros, começou a investir em inovações: apresentou alguns projetos pedagógicos, buscou envolver os alunos em uma série de atividades extra-sala, promoveu a exibição de filmes com estudo prévio das fichas técnicas e resenhas e com amplos debates no final, etc. Foi discriminada e criticada por uma maioria dos professores que já atuavam na escola. Houve até colegas seus que tiveram o desplante de dizer-lhe que filme se usa para cobrir horários vagos...

Eu jamais ousaria fazer uma crítica generalizada aos professores (aliás, toda generalização é injusta); jamais ousaria atribuir-lhes todas as responsabilidades pelas deficiências do nosso sistema de ensino – seria leviandade da minha parte se o fizesse. Existem professores que fazem da profissão um sacerdócio e se desdobram no exercício dela, mesmo sem ser valorizados como deveriam ser. Contudo, não se pode, infelizmente, criticar a educação eximindo de culpa uma parcela, ainda que pequena, desses profissionais.