OS MALEFÍCIOS DA IMPRENSA MONOPOLIZADORA

O que vem ocorrendo no Brasil, sob a égide da comunicação, nada mais é que o uso indiscriminado dos valores através da imprensa, um monólogo dominante em benefício de uns poucos. Notadamente, deduz-se que não está se oportunizando às comunidades como um todo, condições ideais para o ressurgimento do diálogo autêntico. Para eles (...) o receptor das mensagens é passivo e está submetido (ledo engano) ao aparato noticioso, uma vez que quase nunca se lhe dá a condição adequada para atuar também como verdadeiro e simples emissor, sendo obrigado, unicamente, a escutar e obedecer. Esse tipo de comunicação, a meu ver, é meramente transitório por se tratar de unilateral e nociva, porque forçosamente cria um dilema pragmático e vertical, o qual tira da coletividade o poder opinativo, uma forma antidemocrática e antipática de construir e divulgar a notícia.

Todavia, nos deparamos quase que constantemente com situações que nos desafiam. Pois, o que se divulga atualmente, nas TVs, nas rádios, revistas e folhetins e nos jornais que ousamos ler (não ouso aqui generalizar), representa o grau de submissão que se instaurou, fruto de uma relação autoritária constituída, motivado única e exclusivamente pelas “benesses” do poder, pelo sensacionalismo imposto sarcasticamente, oriundos desses veículos de comunicação. Isso, numa linguagem popular é conhecido nos meios de imprensa, como: “A síndrome do patinho feio”. Em poucas palavras, a simulação do conteúdo noticioso sem a necessária responsabilidade, o qual só espelha um lado, perde a sua credibilidade, uma vez que tem um caráter meramente tendencioso.

Ora, face à essa perspectiva ou triste realidade, “o sujeito (agente de comunicação) procura de todas as maneiras possíveis, impor sua visão de realidade como definitiva e, portanto, acima de qualquer dúvida, crítica ou desafio”. Existe, em lugar da verdadeira comunicação, uma emissão de comunicados, “furos de reportagem” e um bombardeio de publicidade (propaganda) institucional, uma aberração. Portanto, não há libertação, mas domesticação. Esses “pseudo-intelectuais” são frutos da submissão, passividade e falta de criatividade. E para os próprios, somos retrógrados, imbecis, cegos e “incultos”, não é para menos, uma vez que cerceiam a nossa fala, a nossa necessária e democrática participação, nos tirando (imaginam) a faculdade de raciocinar, mas, não de nos organizar, numa espécie de teoria da libertação.

Entretanto, partamos de uma insinuação histórica: “o homem é produto do meio em que vive”. Por isso, cabe ao mesmo o poder da palavra, da comunicação, do raciocínio, das ações e premissas na construção de uma sociedade. Não somos e nem devemos ser “ilha”, cercada pelo oceano de intrigas e falácias. Temos que nos libertar das algemas da ignorância, até porque, somos maioria absoluta, principalmente no que concerne à própria condição eleitoral, o nosso poderoso e maior “trunfo”.

Por outro lado, vem surgindo a partir de grupos mais dinâmicos dos denominados setores populares em contraposição à comunicação dominante, a denominada “conscientização popular”. Esse é o verdadeiro instrumento dos setores por ora dominados, no intuito de expressarem a sua situação. Os seus protagonistas, ao contrário do que falam ou pregam, são oriundos das camadas pobres da sociedade, criando-se, sobremaneira, uma condição alternativa, ao menos contestatória. É no interior dessas organizações, dos agrupamentos sociais, dos movimentos de massa, que esta luta é travada, pensando-se na união da coletividade e no atendimento dos inúmeros anseios, principalmente das classes menos favorecidas desse país.

Washington Uranga, escritor, professor universitário, ensaísta e comunicador uruguaio, naturalizado argentino, em conformidade com o Diagnóstico y planificación de Ia comunicación, Ediciones para Ia comunicación, La Crujía. 1994, caracterizando a comunicação alternativa, diz: “(…) duas condições são necessárias para se estabelecer uma comunicação alternativa: que cada um dos participantes do processo esteja capacitado a reconhecer a mensagem emitida como própria; que na base do processo se respeitem princípios verdadeiramente democráticos de igualdade e participação”.

Uranga nos deixa o legado que evidente se faz mencionar: por mais estranho que seja, quando o povo conseguir expressar-se com seus próprios símbolos e linguagem dentro de sua própria classe e para fora, então terá adquirido a verdadeira comunicação. Afinal, esta indução apelativa, que nos faz reféns do nosso próprio medo, motivada pelo momento, pelo desespero de situação e de causa, nos faz refletir sobre a importância da palavra. Pensemos numa imprensa emancipadora e que de certa forma, promova o bem-estar coletivo com ênfase à liberdade política e social, respeitando profundamente a iniciativa cultural e principalmente o nosso direito de ser diferente. Quando isso acontecer, teremos a ousadia explícita em dizer: __Ufa! Até que enfim!