Professor deve ganhar pelo desempenho dos alunos?

Esta é a nova discussão no cenário educacional brasileiro. Com o objetivo de melhorar o desempenho dos discentes nas escolas, alguns especialistas, como o professor Eduardo Andrade, do Ibmec, São Paulo, têm indicado a remuneração atrelada à nota dos alunos como alternativa para selecionar bons profissionais e descartar os “maus” professores que estão em sala de aula.

Entre os que discordam dessa idéia, encontramos o professor Miguel Arroyo, UFMG, Minas Gerais, que afirma que “essa medida cultua uma visão negativa dos professores e tenta comprar seu compromisso”.

Esses profissionais citados debateram essa questão no site da revista Época, onde a maioria dos internautas disse não à associação salário do professor/rendimento do aluno.

Que a educação e o ensino podem melhorar não há dúvidas. Mas quais são os fatores que interferem no desempenho dos alunos em sala de aula? Será que é apenas o salário do professor?

Vamos pensar nos educadores que exercem suas funções pela paixão, nos rincões do Brasil, debaixo literalmente de pau e palha, com turmas mistas de alunos com várias idades (as chamadas classes multiseriadas).

Vamos pensar nos professores que enfrentam o trânsito diário das capitais, muitas vezes duas ou três vezes por dia, para cumprir seus horários em diferentes escolas. E fazem seu serviço com excelência.

Vamos pensar naqueles professores que trabalham sob ameaças veladas de alunos, pais, comunidade.

Vamos pensar na falta que o mercado já está sofrendo de professores capacitados para lecionar nos diversos níveis de ensino.

Seria justo esses profissionais perderem a renda? “O desempenho das alunos depende de uma série de fatores que vão além do empenho dos professores”, afirma Luciléia Passos, votante da enquete na revista Época. Dentre esses fatores, não podemos descartar a realidade vivida por muitos alunos, que vivem em áreas de vulnerabilidade social e muitas vezes não têm o apoio necessário da família para seu desenvolvimento.

Agora imagine um médico tendo seu salário cortado porque seu paciente não se curou a contento. Um advogado que não recebe seu rendimento porque o cliente perdeu a causa. Um professor que vê seu salário ser diminuído porque seu aluno não se desenvolveu como deveria, mesmo com todos os esforços do educador, em um tempo em que a escola vem assumindo o papel da família.

Penso que essa questão deve ser pensada e discutida com muita cautela para que os bons profissionais não sejam prejudicados. Devemos pensar no que fazer para melhorar a qualidade do ensino sim, mas vendo a questão por todos os ângulos.