ESPELHO DE ALICE

Elegemos, cultuamos, endeusamos e rapidamente eliminamos. Sociedade das coisas descartáveis criando modelos em série, os quais, vão sendo substituídos à medida que vão deixando de agradar. Ora, algo está errado no país das instantâneas celebridades, os nossos ídolos, ilustres desconhecidos, aparecem e desaparecem em um passe de mágica como feiticeiras ou ninjas. Nada parece vir para ficar, nada é tão descompromissado com a história, saudosismo de Cazuza "Nossos heróis morreram..." E os nossos sonhos a televisão continuará realizando? Ou também passará com a efemeridade das coisas.

Reconhecer que a nossa visão, o nosso modo de ver as coisas, não detém a verdade absoluta, temos que exercitar a humildade do diálogo, não podemos encerrá-lo, simplesmente fingindo falta de interesse pelo que ocorre ao nosso redor, nesse acelerado das coisas, somos constantemente desafiados, é vital entender as razões para os questionamentos que sustentam o raciocínio de quem critica. De que forma eu poderia ter sido útil, quais as sugestões para melhorar, e as chances de aprender com estas lições, neste momento, seríamos proativos e influenciadores, oportunidade valiosa em um mundo pobre de pessoas críticas, e que evitam, a exposição pública por receio ou medo, prejudicando a si e aos outros, e silenciosos não sabem o que dizer, mudos como dizer e calados quando dizer.

A polêmica é necessária, o posicionamento sócio-político assinala o nosso referencial ideológico, a nossa maturidade, o grito de hoje, é garantia de um futuro melhor. Falar do que discordamos é um dever, não pode ser rotulado como falta de assunto ou do que dizer, o que é muito diferente de ter assunto e nunca dizer nada.

Seria perda de tempo questionar a cor da Cabocla, se ela faz parte do nosso referencial etnológico, da cultura sertaneja, da nossa diversidade, entretanto, ainda não me disseram qual a cor que peca?

A democracia exige paciência, como foi dito, e permite que escrevamos sobre quaisquer assuntos, inclusive criticá-los, eis a dialética. Nessa enxurrada de acertos e equívocos, pela não-aceitação passiva das injustiças, algo bom surgirá. As celebridades televisivas os artistas, autores, produtores, etc; talvez se considerem apenas personagens enquanto atuam, portanto, desvinculadas e isentos do produto final, (lembra o carro-zero e a pós-venda? Ou o 0800 das reclamações? Nunca ninguém foi tão isento de responsabilidades, está tudo nos manuais, nós é que nunca os lemos).

"As representações dos agentes variam de acordo com sua posição e com os interesses associados a ela. As representações formam um conjunto de saberes sociais, ninguém pode se considerar inocente pelo fato de não consumir o lixo que produz" (Pierri Bordieu, 1988).

Podem até educar os seus filhos em padrões ditos sadios, entretanto não deixo de pensar no paradoxo que vivem fora das telas, por não coadunarem integralmente com os personagens que interpretam e ter que aceitá-los por sobrevivência, eis a questão, faturar ou melhorar? Saber eles sabem, não querem inverter, melhorar para faturar mais. Então não são politicamente corretos. Alguém precisa ser? Que segmento da sociedade estará politicamente correto? Enquanto pensam, Não queremos muita coisa, apenas uma televisão sadia, Educativa, e Na carona, reconhecer as manifestações culturais desse povo sofrido e esquecido, não precisamos de apresentadores que se apresentam o tempo todo, atropelando a fala e o raciocínio, ô meu, chega de helicópteros varrendo a cidade como abutres ao som de Music-TeleVídeos repetitivos importados e altamente comerciais. Recordemos dos grandes festivais de música, necessitamos de informações sérias, noticiários que não digam que a Amazônia vai acabar ou que estes ou aqueles, são os animais do futuro, (vê se pode!) se está ou não, chovendo no deserto de Atakama? Precisamos desbravar o Brasil, rasgar a América Latina, dar aulas de Cidadania, não gostamos, mas que venham comerciais inteligentes (alguns são!) que não zombem das classes de baixa-renda nos canais abertos, com mansões (quatro suítes) surrealistas cujas chaves são artesanalmente confeccionadas; ainda não entendi qual a faixa de público que eles gostariam de literalmente atingir? "Tá vendo aquele edifício moço, eu ajudei a construir..." Chega de Televisão Experimental! Precisamos de novos manifestos realistas que versem sobre o bom gosto e o bom senso, penso tanto nessas coisas, que sonhei com uma cópia virtual da Glória Maria (Glória Byte... só pode ser sonho...) dizendo-me: -A Televisão não entra em sua casa, você é que entra na televisão. Acordei preocupado e liguei (ou entrei?) a tv e uma música dizia assim: "eu ando pelo mundo divertindo gente..." eu ali calado, pensando no nosso Remoto Controle sobre as coisas.