A LIBERDADE PLENA

O que é a liberdade? Cecília Meireles disse que “é algo que ninguém sabe explicar, mas que todo mundo sabe o que é”. Até onde somos livres? Existe liberdade plena?

Em alguns ambientes humanos existe mais liberdade que em outros, mas a liberdade plena é uma utopia: sempre esbarra nos interesses contrários de alguém ou de um grupo, nas regras, dogmas, convenções, nos hábitos, nos costumes, na ética...

Artur Schopenhauer, afirmou, no seu livro “O Livre Arbítrio”, escrito na primeira metade do século XIX, que se fosse perguntado a um homem desprovido de conhecimento intelectual sobre sua liberdade, este certamente responderia: “Eu posso fazer o que quero. Se quero ir para a direita, vou para a direita; se quero ir para a esquerda, vou para a esquerda. Isso depende unicamente do meu assentimento. Eu sou, portanto, livre”. E concluiu: “É verdade que ele pode fazer uma coisa quando a deseja, e que faria tal e qual uma outra se, por sua vez, o quisesse: porém, o que se torna digno de reflexão, é indagar e ver se ele é realmente capaz de querer indistintamente uma e outra coisa”. Grande pensamento de um homem que, contraditoriamente, fez o infeliz comentário (extremamente machista) de que as mulheres são “seres de cabelos compridos e idéias curtas”.

Mikhail Bakunin, militante anarquista russo, faz uma abordagem política da liberdade, traçando um paralelo entre esta condição e o sistema de organização política de uma sociedade sem classes: "liberdade sem socialismo é privilégio e injustiça; socialismo sem liberdade é escravatura e brutalidade". Graciliano Ramos disse que o cerceamento da nossa liberdade está sempre presente: "Começa com a sintaxe e acaba na delegacia de ordem política".

Wilhelm Reich compara a liberdade a uma superposição orgástica – no orgasmo, segundo Reich, o ser se dilui no outro e no cosmos através da perda momentânea da consciência. Liberdade, neste caso, é, sobretudo, a soltura das amarras que a consciência nos impõe.

Nietzshe afirma que: "Tudo aquilo que em mim sente, sofre de estar numa prisão, a minha vontade chega como libertadora e portadora de alegria. O querer liberta, é isto a verdadeira doutrina de vontade e liberdade". Para Nietzshe o homem (o forte) é capaz de se libertar verdadeiramente pelo exercício da sua vontade.

Conclui-se que a liberdade do ser humano será sempre limitada. Jamais haverá liberdade plena. A capacidade de ser livre, em cada um de nós, é minada desde muito cedo por vários fatores, entre os quais, as inúmeras formas de manipulação para atender aos mais diversos interesses. Podemos nos considerar livres quando conhecemos a realidade existente ao redor de nós, sabemos das opções que temos, escolhemos conscientemente o que realmente queremos e investimos na operacionalização dessas escolhas – sempre com o cuidado de nunca atropelar a liberdade do outro (eis mais um limite).