DROGA: UM PRAZER EFÊMERO

Em algum momento de sua vida você poderá vivenciar uma experiência altamente prazerosa provocada pelo uso de uma substância química qualquer. Isso poderá ocorrer por exemplo, após a ingestão de umas doses de bebidas alcoólicas, pelo uso indevido de um cigarro de maconha ou por automedicação com qualquer outra substância psicotrópica.

Imagine, então, que em uma dessas experiências, como por um passe de mágica, você sinta que aquela raiva evapora-se; sua timidez perde-se no espaço; a alegria ocupa o lugar da incômoda tristeza. Seria ou não, maravilhoso?

Se o iniciante conhecesse o interior do labirinto em que ele está prestes a entrar, o gran finale desta ópera seria diferente.

A partir desse momento prazeroso, a droga emite um canto de sereia que envolverá um grande número de marinheiros de primeira viagem. Nessas condições, a pessoa acabou de ter criado e salvado em seu cérebro um arquivo extremamente especial. Dessa forma, toda vez que ele se sentir “mal” o que acontecerá?

A maioria dos seres humanos tem tolerância zero para qualquer espécie de desconforto físico ou psicológico. Se já dei alguns passos numa trilha desprovida de entulhos, obviamente, não vou querer ser caminheiro em terreno pedregoso. O curioso é que este pensamento é, na maioria das vezes, válido para a recorrência do uso de uma droga e não para a abstinência da mesma, já causadora de múltiplas desventuras.

Quando houver, qualquer crise existencial, inadequação ou frustração, a mente do indivíduo, com toda certeza, vai sugerir a repetição, daquela, sedutora, agradável e balsâmica experiência inicial com a droga. Este procedimento será válido enquanto o indivíduo estiver no processo da drogadição, por mais que ele saiba que o benefício encontrado, na fase de lua-de- mel com a droga já expirou há muito tempo.

A tendência da maioria dos seres humanos é buscar soluções rápidas e mágicas para sanar seus problemas. Por decisões precipitadas, e principalmente por ignorância a respeito de sua droga de preferência, o indivíduo acaba optando pelo uso dessa mesma substância, como já dissemos, em vez de buscar ajuda especializada de um profissional da área de Saúde.

Com a progressividade deste procedimento, muitas comorbidades serão geradas. Ansiedade mais dependência química; depressão mais dependência química, ou seja, uma leve depressão que qualquer psiquiatra poderia resolver é agravada pela opção errada de tratamento. O paciente escolhe usar a droga que ele sempre achou que era a solução imediata de todos seus problemas.

De repente, o céu já não é mais de brigadeiro. As turbulências surgem. Nessas alturas, o julgamento crítico deste doente estará comprometido e o indivíduo vai continuar achando que a soma de dois mais dois terá um resultado diferente de quatro. Nessas horas é muito bom que a família saiba que o dependente químico já não poderá decidir mais nada além do progressivo e necessário uso da droga. Em estado de fissura, necessitando, portanto, do uso, o dependente rouba ou mata para ter condições de comprar a droga. A família é que deverá buscar uma ajuda especializada. O usuário perdeu a condição decisória para optar por uma recuperação.

A dependência química acaba afetando todos os componentes da família. Um dos procedimentos nessa hora é buscarem profissionais especializados na comunidade.

Nos grupos de mútua ajuda, tais como Narcóticos Anônimos e/ou Alcoólicos Anônimos, poder-se-á obter endereços dos grupos familiares. Nesses locais de reuniões, muitas sugestões serão apresentadas. A família jamais deve desistir de buscar ajuda. Bem orientada terá condições de abordar seu familiar dependente com mais sabedoria, tranqüilidade e perseverança. Lembre-se, dependência química é considerada pela Organização Mundial de Saúde como uma doença biopsicossocial.

*Luiz Celso de Matos é Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos

Luiz Celso de Matos
Enviado por Luiz Celso de Matos em 26/04/2008
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