LIDERANÇA E SUCESSO NO ASSOCIATIVISMO

Quando as pessoas não comparecem à sede ou a evento que estava previsto para homenagear liderança e/ou a sessão em que se promove a imagem da própria entidade social, é claro sinal de que alguma coisa errada está ocorrendo no todo associativo e em seu entorno comunitário. Os sócios de entidades culturais – particularmente as que mexem com literatura – comumente não acatam de bom grado o desgastado “fru-fru literário” e a promoção em torno de qualquer componente da Diretoria. Eles entendem que perdem espaço comunitário visto ficarem de fora da mídia com o aparecimento do líder consolidado e principalmente com o espaço ocupado pelos emergentes, na mídia em geral. É a mídia impressa que regula a circulação da notícia e a conseqüente repercussão na radiofonia ou na televisão. Esta espécie de mídia é aquela que vem ao público em jornais, principalmente os diários e semanários, em livros e em revistas com circulação dirigida e com boa receptividade nos formadores de opinião na área cultural. A intensidade e profundidade da divulgação acabam surtindo efeitos danosos no dia-a-dia do associativismo. Porque é esta que forma a imagem do protagonista do palco cultural. Afinal, vivemos na aldeia global do século XXI, totalmente regulada pelos meios de comunicação social. O prestígio nestes nichos significa dinheiro e oportunidades. Vale dizer, num mundo regulado pelo consumismo, brilho e sucesso para quem pertence naturalmente à gloriosa legião do quase anonimato, que é o que observamos de comum na vida do escriba ainda não renomado, famoso. Dificilmente o escritor – em particular o poeta – conhece o sucesso enquanto vivo. Trabalha-se com afinco para a improvável, mas esperada “imortalidade” futura. É da dialética em tempo real – em todos os campos da vida – a queda-de-braço. Ainda mais nos duros tempos da contemporaneidade, em que regras comuns ao consumismo mercadológico são copiadas pelos novatos em Arte e são levadas para dentro das instituições como fossem regras corretas para regular o altruísmo e o desprendimento que norteiam as ações no associativismo cultural e literário. É de causar dó o que temos testemunhado nos últimos vinte anos: os novos vivem terçando armas com suas lideranças mais experimentadas, não só nas reuniões associativas e em eventos literários, mas em toda e qualquer situação, “armando barraco” e chamando a atenção para a sua pessoa e obra, mesmo que nada tenha digno de nota e em seu favor, na comunidade. Os enfrentamentos e a peleja ocorrem principalmente com os dirigentes não tanto esclarecidos ou preparados para a contemporaneidade intelectual. Os recém-chegados nas corporações literárias (que comumente estão às portas dos cinqüenta anos) buscam a todo custo que a mídia lhes bafeje. Todos estes querem o sucesso fácil e sem medida. A demanda dos fatos e o viver ativamente a gama de vetores culturais constroem o agente cultural, que nem sempre é um ativista, porque este é necessariamente um LÍDER, e o agente nem sempre tem estes ornatos de personalidade. A chegada (de um militante) ao topo cultural ocorre considerando-se a CULTURA como os dois braços formadores de uma cruz: o vertical, que é o da escolaridade, e o horizontal, que é o da escola da vida, aquele das vivências. É assim que eu a concebo há mais de vinte anos, sem nunca haver lido nada que se parecesse com esta concepção. A plenitude do homem, em Cultura, se dá por volta dos setenta anos, que é quando os dois braços formam a CRUZ DO CRISTO. Nesta fase, o agente está pronto para receber a bofetada no rosto e dar o outro lado da face. O experimentado ativista cultural não ‘mete a mão em cumbuca’, não disputa espaço com o que está no exercício das tarefas de dirigente, nem com o novato que chega à sua associação cultural, porque se espera que com todos estes anos acumulados já deva saber se está ou não consolidado como intelectual. Para tal finalidade ou ambição, a associação literária não é a arena própria para a consecução e/ou consolidação. E se ao chegar às cercanias dos setenta anos não estiver consolidado como ativista é porque perdeu o trem da história. No mínimo porque esqueceu que o produto final do intelectual voltado à criação literária é a obra materializada em livro. Também as promoções em torno deste que visem promover efetivamente a leitura e a conseqüente discussão estética. Quem lê tem informações para discutir com autoridade tal ou qual assunto. E são muitos os ativistas desavisados e ingênuos que aceitam estas absurdas provocações de pessoas que ainda não entenderam que o universo da arte não pode ser contaminado com as regras próprias de quem quer ‘levar vantagem em tudo’, que é a tônica do mundo globalizado em que vivemos. Principalmente os que cortejam a fácil popularidade a qualquer preço e os que entendem que todo mundo se dobra ao dinheiro e àquilo que ele proporciona. Ser escritor é pertencer a uma fauna diferenciada...

– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2006/2013.

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